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A linguagem musical na infância: qual o papel do educador neste trabalho?

Por Gisele Pires Milani

Afirmar a necessidade da presença das Linguagens da Arte, em especial a Música, no currículo escolar é reconhecer a sua importância na formação integral do indivíduo. É vislumbrar a gama de oportunidades que essa linguagem, inserida na educação básica, oferece para o desenvolvimento das potencialidades das crianças e dos jovens e a contribuição para a sua formação crítica e criativa. É nesse sentido que afirmamos em consonância com Hans-Joachim Koellreutter (1990) que a Linguagem Musical possui a capacidade de integrar corpo e mente, ação e reflexão, emoção e razão, intelecto e sensação.

Todos nós somos seres musicais e antes mesmo de nascer estamos em contato com um imenso universo sonoro: o som do fluxo sanguíneo e a voz materna, juntamente com todos os sons externos já fazem parte da nossa vida e a memória destes sons, ao nascer, garantirá boa parte do conforto durante o período de adaptação ao seu novo ambiente.

Os balbucios do bebê logo nos primeiros meses de vida, são as primeiras manifestações de canto – o chamado canto espontâneo – que estimulados se transformarão no canto que conhecemos. Em sua brincadeira espontânea, a pesquisa e o encantamento pelo som aparecem quando, por exemplo, experimentam produzir um som forte ou fraco ao bater um objeto no chão ou contra outro objeto.

Quem nunca percebeu a criança explorando as possibilidades sonoras de uma panela sendo percutida numa tampa ou no chão? E o interesse pelo som que sua mão produz ao bater numa bacia com água ou mesmo ao pular numa poça d’água? E a curiosidade sobre os sinais que uma ventania ou o canto específico de um pássaro lhes indicam?

Quando estão em idade escolar a pesquisa e as possibilidades de desenvolvimento musical acontecem não só nos momentos específicos reservados para a linguagem, mas também nos diversos momentos da rotina. Conforme François Delalande (2019) nos diz:

As crianças de uma classe de Educação Infantil são como músicos concretos. Eles descobrem utensílios, corpos sonoros quaisquer e possuem, frente a esses instrumentos, uma atitude de um músico fechado em um estúdio para fazer uma gravação. Elas exploram o dispositivo, observam o que dele é possível tirar e tentam produzir toda uma família de sons que se pareçam.

Por isso é importante o professor generalista estar atento à pesquisa da criança e nas possibilidades de interlocução com outras áreas do conhecimento, pois apesar de cada área corresponder a uma gama de conceitos específicos, muitos deles são compartilhados também por outras áreas (o ritmo, por exemplo, está presente na música e também nas ciências da natureza, no teatro, na dança…). É nesta integração multidisciplinar que as chances de uma aprendizagem significativa encontram potência.

Dito isso, o que o educador que não é especialista nesta área pode fazer?
Este(a) professor(a), atento(a) aos tempos do grupo e aos movimentos de interesse e pesquisa individual das crianças poderá fazer pontes, tecer relações entre cada linguagem e oferecer recursos para seguirem no seu processo. Assim, será capaz de buscar oportunidades para o desenvolvimento da percepção auditiva, da organização dos elementos musicais, da expressão, da composição e sempre a criança estará no centro de seu aprendizado.

Importante ressaltar que, para que este professor possa exercer uma liderança e a segurança de que estará conduzindo o trabalho nesta área de forma consciente e assertiva, é necessário que as Instituições educacionais abram espaço para a formação continuada desses educadores também em música. Que eles possam tomar contato, assim como nas outras áreas do conhecimento, com princípios conceituais, e que esta linguagem faça parte do seu universo pedagógico.

E para fechar esta conversa, um convite! Abra seus ouvidos e escute, escute o que o som da natureza nos diz; cante, porque a nossa voz é capaz de traduzir e expressar aquilo que a fala e a escrita, às vezes, não dá conta. Por fim, experimente o som que seu corpo pode produzir. As surpresas podem ser indescritíveis.

Viva a música!

 

[1] KOELLREUTTER, H.Joachim. Wu -Li: um ensaio de música experimental. Revista Estudos Avançados, vol4 n.10 Instituto de Estudos Avançados da USP, (1990)
[2] DELALANDE, François. A música é um jogo de criança.Editora Peirópolis, São Paulo. 2019

Gisele Pires Milani

 

O curso “Música aqui, ali e em todo lugar: caminhos para a educação musical na infância” que estará na Programação de Verão em janeiro, trará a oportunidade de nos aprofundarmos nesse assunto. Para professores da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, atelieristas, profissionais da área da infância e interessados no tema.

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