Reflexões sobre esse processo de Alfabetização: E agora, o que eu faço?

por Daniela Munerato

 

Diz o aluno: “Eu já estou no 1º ano, certo? Então, eu vou aprender a escrever amanhã?”

Num movimento quase mágico, muitas crianças ainda pensam que haverá um dia no qual acordarão e saberão ler e escrever como os adultos. O que não percebem sozinhas é que vivem, desde pequeninas, uma relação muito íntima com um universo que traz comunicação, encantamento, compartilha memórias, num trânsito contínuo entre a oralidade, a leitura e a escrita. Relação e experiências que promovem muitos saberes, que devem ser sempre pontos importantes e considerados, independentemente do ponto de vista do professor ou da criança.

É a partir do que a criança já sabe que temos evidências de aprendizagens e informações preciosas para a organização de um planejamento e de intervenções que façam sentido para elas e provoquem avanços por meio de diferentes reflexões.

Diz o professor:”Ah! Como você está crescido! Nem parece aquele pequeno que alfabetizei”

Os educadores, com as lembranças de seus processos vividos, têm as professoras como a grande referência. Afinal, eram elas que diziam: “hoje, nós vamos aprender….”, “você ainda não aprendeu o MA, é a próxima lição, precisa esperar.”

Então, existe alguém que ensina, e o outro que aprende e, nesta lógica, a professora “alfabetizou”.

Sabemos que o processo de alfabetização não acontece naturalmente, precisa de boas perguntas e mediações adequadas, mas com certeza traz a ansiedade ao professor, como se fosse uma missão pessoal. Ver as crianças lendo e escrevendo autonomamente e em pouco tempo: que orgulho!

Mas diante da pressa, podem perder a grande oportunidade de prestar atenção nos conhecimentos que já foram construídos ou mesmo na lógica da criança. A ideia é sempre ouvi-los e cuidar das interpretações. Falar menos e escutar mais: a criança nos dá pistas sobre o que pensa a respeito da escrita. Devemos deixar espaço para isso, como no exemplo a seguir:

“Ah! Brigadeiro deve escrever com C, porque é feito de chocolate!”

Sem essa informação, o educador poderia dizer que a criança não tem ideia do que está escrevendo. Mas, diante da explicação, o raciocínio faz todo sentido.

No percurso da identificação dos saberes por meio de vários instrumentos e do próprio cotidiano, cabe ao professor a realização de um planejamento com atividades desafiadoras e intervenções de acordo com as necessidades de cada grupo.

Quem nunca se perguntou: “O que eu faço agora?”, diante dos dados de um grupo.

A chave de um planejamento está no potencial do que é proposto, deixando que as crianças experimentem e reflitam a respeito do sistema de representação do qual estão se apropriando.

Precisamos ter algumas ações contempladas, que nos afastem de um olhar tendencioso como “para escrever vamos pensar em partes”, mas também precisamos causar boas mobilizações  a partir de atividades pelas quais as crianças possam produzir, interpretar, estabelecer relações, observar sua escrita, revisar, comparar e realizar cópias em contextos.

A diversidade de atividades se faz presente dentro de uma concepção que não se perde, com a interação em foco, a explicitação de pensamentos e estratégias, a construção do conhecimento que se não for vivido, não provoca a desestabilização necessária para o desenvolvimento do processo.

Para finalizar, retomo a questão da preocupação com as partes da palavra, fazendo um convite para iniciarmos por um todo, um contexto, lembrando que as atividades fragmentadas não provocam tais ações e reflexões. Mostrar  letras uma a uma e nomeá-las, por exemplo, reconhecê-las e saber grafá-las como início fundamental do processo não revela um leitor ou um escritor, nosso foco de formação.

É importante que as propostas tenham uma função social, as crianças precisam conhecer o sentido da atividade. E assim vão identificar semelhanças e diferenças, escritas e sonoras, vão descobrir outras “escritas” no interior de uma conhecida: “Dentro de Isabela, tem Isa, tem bela, tem ela.” Podem usar também palavras que já conhecem como modelo na produção de outras palavras.

Fato é que todos pensam sobre este processo (e muito!), porque é algo complexo e lindo! Na mistura do desejo, na aflição do tempo, na tranquilidade da segurança, dos princípios claros e na importância da formação dos professores.

Que o diálogo sobre o assunto continue sempre, entre pares (crianças), educadores (como formação e troca), crianças e educadores (processos reflexivos) e que vá se modificando: sempre necessário!

Que ganhe também espaço no prazer pela leitura, em todas as formas de ler, não somente literatura, e também no prazer pela expressão por escrito, na construção contínua dos diferentes textos, em seus contextos, registrando comunicações, caminhos e percursos.

 

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