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Trilhando caminhos na leitura de livros ilustrados – da estética literária à perspectiva antirracista

por Elis Coelho e Paula Lisboa

Felizmente em boa parte das escolas no Brasil a leitura cotidiana já é prática valorizada, tanto que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) coletados entre 2015 e 2019 indicam crianças de 5 a 10 anos como a única faixa etária que apresentou aumento no número de leitores no período. O hábito da leitura é realmente fundamental, porém o que será que as nossas crianças estão lendo? Quais referências intelectuais e culturais estão sendo apresentadas? Que ações podemos ter para potencializar a leitura, sua compreensão e a constituição de uma comunidade leitora crítica dentro da escola?

Teresa Colomer (2007)[1], uma das autoras trazidas como referência em nosso curso, pontua uma pertinente questão da atualidade: diante de uma sociedade que supervaloriza o consumo, a diversidade de publicações tem crescido desenfreadamente, o que nos leva a pensar ainda mais em nossas escolhas como mediadoras e mediadores de leituras. Como estamos organizando os critérios para a seleção dos títulos apresentados? Como podemos definir quem são os cânones da literatura infantil, diante de tantas novidades e de importantes mudanças de valores sociais? Como contemplar a memória coletiva e intergeracional, e ao mesmo tempo garantir a aproximação de novos modelos literários, ampliando as referências intelectuais e culturais para além do universo eurocentrado?

Esse curso vem sendo construído ao longo de anos de parceria entre sala de aula e biblioteca, com a intenção de ampliar a reflexão e oferecer ferramentas aos educadores e educadoras para a escolha de boas leituras a serem realizadas com suas turmas. Para além do gosto pessoal e das diferentes referências culturais que trazemos, é importante sabermos identificar aspectos que funcionam como indicadores de qualidade literária. Além disso, se a literatura é fonte e ferramenta para a formação de referências éticas e estéticas, o que estamos ensinando para as crianças quando seguimos apresentando principalmente o imaginário europeu e o universo da pessoa branca como referência única e hegemônica?

O livro ilustrado tem uma estrutura própria, composta pela elaborada relação entre texto e imagem, que amplia as possibilidades de compreensão e interpretação da narrativa. É uma linguagem tão específica que pode ser considerada uma “nova mídia”, uma vez que exige habilidades leitoras específicas na construção de sentidos. Vamos explorar quais são esses elementos presentes no livro ilustrado e experimentar na prática a análise de alguns títulos por nós indicados.

A partir de uma perspectiva antirracista, vamos ainda refletir sobre a importância de ampliar referências estéticas e intelectuais, incluindo uma curadoria afrocentrada em nossas escolhas literárias. Como seria se buscássemos inserir entre os livros e histórias apresentadas para as crianças toda uma gama de representatividade negra nas imagens, nas narrativas, nos temas, nas autorias, nas referências culturais e estéticas?

Somente a partir de uma mudança de olhar constante e cotidiana é que podemos seguir na construção de uma educação antirracista. E certamente tal mudança e reconstrução precisa primeiramente acontecer em cada uma e cada um de nós, educadoras e educadores, ampliando nosso olhar, reconstruindo nossas referências, trazendo a questão racial para o centro de nossa prática educadora. Não existe receita, mas existe muito material para nos apoiar nessa importante transformação. Vem com a gente?


Elis Coelho é formada em Pedagogia, com pós-graduação em Gestão e Formação em Educação Infantil, ensina e aprende cotidianamente com as crianças na Escola da Vila desde 2007, com mais de dez anos de experiência na área.
Paula Lisboa é atriz e contadora de histórias, atua como auxiliar de biblioteca e mediadora de leitura na biblioteca da Escola da Vila desde 2006. Também é contadora de histórias para crianças no grupo Canta e Conta e para adulto no grupo Coletivas.
Os textos aqui publicados não refletem, necessariamente, a opinião do Centro de Formação.

 

Referência Bibliográfica
[1]COLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola. São Paulo: Global, 2007.

Confira a Programação de Verão dos cursos presenciais do Centro de Formação da Vila e inscreva-se ainda hoje no curso: Trilhando caminhos na leitura de livros ilustrados – da estética literária à perspectiva antirracista, direcionando para bibliotecárias, bibliotecários, professoras e professores mediadores de leitura que atuam nas séries iniciais do Fundamental I e Educação Infantil, ministrado pelas professoras e formadores do Centro de Formação da Vila, Elis Coelho e Paula Lisboa.

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