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A pesquisa como ponte para a construção do sujeito que estuda:

as práticas de leitura e escrita como ferramentas para a transformação do conhecimento


Por Adriana Miritello Terahata e Beatriz Mugnani, Professoras do Ciclo 2 e 3 da
Escola da Vila, respectivamente.

Ao longo da vida, tanto fora quanto dentro do ambiente escolar, nos deparamos com situações que nos exigem olhar investigativo sobre o mundo: encontramos termos e conceitos que não conhecemos, lemos notícias sobre eventos e situações que não estávamos a par ou enfrentamos conversas com pessoas muito sabidas sobre assuntos que não sabemos tanto. O que fazemos quando isso acontece? Quais posturas adotamos? Que maneiras nos relacionamos com o não conhecer e com o saber mais sobre algo? Buscar informações em sites com palavras-chave, buscar textos, vídeos ou imagens que nos ajudem a saber mais sobre algo, registrar, tomar notas, todas essas são ações de um sujeito que pesquisa, um sujeito que estuda.

O presente texto tem por objetivo trazer contribuições para a reflexão sobre as práticas de pesquisa no Ensino Fundamental 1, particularmente as situações de leitura, escrita e oralidade que são desenvolvidas, já que entende-se que ensinar crianças e jovens a estudar e a utilizar as práticas de escrita em contexto de estudo é necessário para democratizar o acesso ao conhecimento e também uma marca de cidadania.

Saber pesquisar: quais são as implicações? Por onde se começa uma pesquisa? Quais são as escritas, as leituras e as situações de discussões que vamos oferecer às nossas turmas de crianças? Como saber que textos são mais adequados para o meu grupo de alunos e alunas? O que as crianças podem aprender quando estão diante de tais textos? Quais condições didáticas favorecem o uso da leitura e escrita como ferramenta para conhecer e aprofundar o conhecimento de conteúdos específicos?

Para Lerner[1] (2012), a escrita como toda atividade humana adquire características específicas em função dos propósitos de quem a realiza, das situações e dos contextos institucionais em que se desenvolve. No ambiente escolar, esse contexto apresenta outras variáveis, como: as diferentes situações de leitura e escrita que os estudantes viveram, as expectativas dos docentes e estudantes em relação ao propósito do trabalho e as condições de produção. Assim, ler e escrever para aprender História é diferente de ler e escrever para aprender Ciências Naturais, Matemática ou Literatura, pois os objetos de conhecimento diferem, e assim, a forma de organizar a escrita para comunicar tais conhecimentos também será diversa.

O contexto de pesquisa no Ensino Fundamental 1 comumente está vinculado às áreas de Ciências Naturais e Ciências Humanas. Neste contexto, os textos informativos são apresentados aos estudantes com o objetivo de trazer informações sobre um assunto e, com isso, levar os estudantes a saberem mais sobre este assunto. Existem diversos tipos de textos informativos: notas de enciclopédia, notícias de revista, jornais, manuais etc. Porém, sabemos que cada área de conhecimento apresenta diferentes formas que se relacionam com seus conteúdos. Assim, uma biografia, um texto narrativo, pode nos ajudar a saber mais sobre uma pessoa específica ou sobre um período histórico específico. O que buscamos ressaltar aqui é a importância da clareza didática que temos sobre o que queremos que as crianças aprendam: dessa maneira, consigo buscar mais fontes de informação para aproximá-los cada vez mais do objeto de estudo. É importante destacar que é desafiador ler para buscar e selecionar informações e estas competências são aprendidas.

Ao longo de uma sequência que envolve textos informativos, as crianças, inicialmente, ouvem ou lêem diferentes materiais para descobrir algumas informações. O que fazer durante essas leituras? Como ajudá-los a selecionar as informações mais relevantes? O que fazer quando não entendo uma palavra ou um trecho do texto? Damos textos para as crianças lerem sozinhas ou lemos coletivamente? O que reconhecer nestes textos que pode auxiliar esta busca?

No momento do registro de suas pesquisas, as crianças precisam fazer escolhas: Como organizar os assuntos? Quais as melhores palavras? A ideia está clara? O que registrar? O que deixar de lado? Ao mesmo tempo em que é preciso decidir se estão escrevendo corretamente, preocupando-se, por exemplo, com a separação de palavras, pontuação etc.

A escrita, tem papel relevante na construção de conhecimento, e os textos informativos assim como outros tipos de texto, têm recursos linguísticos (marcadores) que os caracterizam, como: fotos, legendas, tabelas, entre outros. Na prática educativa, são necessárias condições e intervenções didáticas para que os estudantes se apropriem destes recursos, isto é, saibam lê-los e usá-los em suas pesquisas e produções, sempre levando em conta o propósito comunicativo colocado em jogo: para saber mais, para explicar melhor aquilo que sei, para me ajudar ou ajudar outros a estudar sobre determinado tema. O simples ato de ler ou escrever uma informação não irá garantir que as crianças conheçam mais sobre a língua e sobre o assunto que estão estudando, porém cabe a nós docentes refletir e compartilhar nossas experiências e embasamentos teóricos, para que cada vez nos aproximemos de situações de pesquisa com mais intenção didática, sabendo o que queremos ensinar e que sujeito queremos formar.

Existem diferentes possibilidades de abordar a pesquisa e o estudo dentro da sala de aula, levando em conta as práticas de leitura e escrita. Cabe a nós, professoras, nos lançar ao desafio da práxis educativa: ação – reflexão – ação para constituir contextos de estudo que incentivem a autonomia e o protagonismo das crianças e possibilitem que elas aprendam mais sobre o assunto que estão pesquisando e sobre a própria língua. Fundamentalmente, para se promover a construção de um conhecimento transformador, é necessário que a teoria e a prática caminhem juntos.

Adriana Miritello Terahata é Doutora e Mestre em Educação: Psicologia da Educação e graduada em Pedagogia e Fonoaudiologia, atua como professora nos anos iniciais do Ensino Fundamental I na Escola da Vila.
Beatriz Mugnani é Formada em Pedagogia, mestranda em “Escrita e alfabetização”, vem dedicando suas pesquisas para o processo de alfabetização e produção de textos em contextos de estudos, professora experiente de turmas de Fundamental 1 na Escola da Vila.
Os textos aqui publicados não refletem, necessariamente, a opinião do Centro de Formação.

[1] Lerner, D; Larramendy, A; Cohen, L. (2012). La escritura en la enseñanza y el aprendizaje de la historia: Aproximaciones desde una investigación didáctica. Clío & Asociados (16), 106-113. En Memoria Académica. Disponible en: http://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar/art_revistas/pr.5543/pr.5543.pdf

O curso Ler e escrever para aprender: O contexto de pesquisa no Fundamental 1 que estará na Programação de Verão em janeiro, trará a oportunidade de nos aprofundarmos nesse tema. Assim, este curso discutirá o contexto teórico e prático das propostas de pesquisas no Ensino Fundamental 1, com foco na potência da integração de saberes: tanto para aprender a ler e escrever mais e melhor, tanto para a construção de saberes de outras áreas de conhecimento, como as Ciências Naturais e Ciências Humanas.

1 comment

  1. Michelle Boroni

    Olá!
    Meu nome é Michelle, sou de Belo Horizonte, trabalho no Instituto da Criança, com turmas de 4º ano.
    Após a pandemia, ler e escrever tornou-se um desafio ainda maior para nossas crianças. Apropriar-se de uma prática em um contexto investigativo de pesquisa, usando a leitura e a escrita como ferramentas, integrando os diversos conteúdos, a fim de promover um aprendizado significativo, é o caminho para superar esses desafios e fazer com que, ler e escrever possam se tornar atividades mais prazerosas para os estudantes.

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