Por Adriana Miritello Terahata
Porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada.
(Guimarães Rosa)
A escola é um ambiente de convivência. Conviver implica estabelecimento de regras e tomada de decisões comuns para regular as diferentes interações que acontecem cotidianamente. Educadoras e educadores dos mais diferentes segmentos sabem que esse processo nem sempre é harmonioso e isento de conflitos, afinal, é no ambiente escolar que os múltiplos modos de ser e estar no mundo se fazem presentes.
Em nosso propósito educacional, cotidianamente, nos questionamos: Que experiências estamos proporcionando? Que valores compartilhamos? Quem queremos formar? E, como bem sabemos, não há resposta fácil nem pronta!
A atuação docente tem múltiplas demandas que se entrecruzam e, como destaca Lerner (2012), as decisões dos professores muitas vezes resultam da tensão entre o objetivo de promover a aprendizagem e outros objetivos relevantes para a atividade diária, como: preservar a afetividade de seus alunos, manter a convivência harmoniosa na sala, conservar sua motivação, entre outros tantos fazeres.
Isso porque, como afirmam Garcia e Puig (2010), a escola deve assumir como uma de suas prioridades a formação de pessoas abertas ao diálogo, capazes de expressar sua opinião e de escutar as demais com a intenção de encontrar soluções em comum acordo para todos os desafios apresentados pela realidade.
Ainda, segundo esses autores, a regulação da convivência escolar, o sentimento de fazer parte de um grupo, os projetos de trabalho, o sistema de relações na escola e, definitivamente, a vida na sala de aula encontram no diálogo o instrumento básico para se constituírem (Garcia e Puig, 2010).
Em uma perspectiva construtivista de educação, o desenvolvimento de procedimentos/atitudes próprias do diálogo, como: respeitar o turno de fala, reconhecer os argumentos dos outros, confrontá-los com os próprios e elaborar mensagens claras não acontecem espontaneamente e nem são impostos por parte das professoras.
O diálogo se constitui e é ensinado-aprendido nas interações que se dão a partir do desenvolvimento, por parte das professoras, de diferentes práticas e experiências que favoreçam o debate e o confronto de opiniões e, principalmente, que os incentivem como método e finalidade moral (Garcia e Puig, 2010:68).
Na Escola da Vila, ao longo de toda a escolaridade, diferentes práticas participativas são experienciadas pelas crianças e têm se mostrado potentes para o desenvolvimento deste “instrumento básico para convivência” que é o diálogo: rodas de conversa, assembleias, mentorias, comissões e atividades habituais em que o protagonismo seja das crianças.
Essas práticas oportunizam diferentes interações e contribuem com a construção de um ambiente favorável à aprendizagem. Mas o que ou como é esse ambiente?
- Quais condições didáticas devem ser consideradas pelas professoras e pelos professores?
- Como organizar o planejamento pedagógico para que elas “caibam” em nossas rotinas?
- Quais relações as práticas participativas têm com outras áreas do conhecimento?
- Que intervenções docentes são potentes para que as crianças possam desenvolver mais autonomia, protagonismo e engajamento com as próprias aprendizagens?
Essas e outras questões merecem um olhar atento e cuidadoso. Para isso, idealizamos o curso: Eu, você, nós! Assembleias, comissões, tutorias: práticas colaborativas e participativas na sala de aula, que está na Programação de Inverno do Centro de Formação da Vila.
Acredito que a prática educativa é uma atitude ética, generosa de uns com os outros e, por isso, é necessário compartilhar. Não com a postura do “saber mais e de ter encontrado verdades”, mas com o compromisso de pensar sobre cada uma dessas questões de modo mais aprofundado e atencioso.
Uma grande amiga me ensinou que uma sociedade de confiança é uma comunidade de solidariedade, de projeto comum, de intercâmbio, de uma liberdade criativa que conhece sua responsabilidade. Assumir minha responsabilidade se traduz, agora, em compartilhar um pouco desses fazeres e dos pensamentos que os fundamentam. Fica aqui o meu convite!
GARCÍA X. M.; PUIG J.M. As sete competências básicas para educar em valores. [revisão técnica Valéria Amorim Arantes; tradução Óscar Curros] – São Paulo: Summus, 2010.
LERNER, D. Como o trabalho compartilhado entre os docentes favorece o aprendizado dos alunos. Endereço da página: https://novaescola.org.br/conteudo/546/como-o-trabalho-compartilhado-entre-os-docentes-favorece-o-aprendizado-dos-alunos. Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Janeiro | 2012
Programação de Inverno 2024 no Centro de Formação da Vila
Veja abaixo o link de alguns cursos da nossa Programação e acompanhe as postagens no
Blog do Centro de Formação da Vila.
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