Ambiente alfabetizador: primeiras reflexões

por Caroline Ferraz e Elis Coelho 

Nas últimas décadas, houve significativas contribuições e investigações tanto na área da psicolinguística (Ferreiro e Teberosky, 1979; Lerner, 1982; Teberosky, 1982; Kaufman, 1982) quanto na didática (Kaufman, Castedo, Molinari e Teruggi, 1989; Weisz, 1998, etc.) sobre a relevância de se considerar o ambiente alfabetizador como uma das condições essenciais para a aprendizagem da leitura e escrita. 

Desde então, nossas salas de aula ficaram recheadas de muitos materiais e suportes com nomes e funções bem específicas, como: calendários sinalizando datas comemorativas, eventos e aniversários; fichas de nomes das crianças do grupo; fichas de atividades da rotina; registros de descobertas a partir de um estudo; listas de materiais coletivos, livros lidos, cantigas favoritas, frutas mais apreciadas pelo grupo. Enfim, podemos ficar horas aqui pensando em listas e mais listas para dispor e enriquecer nosso ambiente escolar. 

A educadora e pesquisadora argentina Delia Lerner (2002) no livro Ler e Escrever na Escola: o Real, o Possível e o Necessário defende que “o grande propósito educativo do ensino da leitura e da escrita no curso da educação obrigatória é o de incorporar as crianças à comunidade de leitores e escritores e o de formar os alunos como cidadãos da cultura escrita”. Para a autora, isso implica propor às crianças atividades com as quais elas desenvolvam comportamentos de quem lê, escreve e fala. 

Neste sentido, as listas que estão tão presentes em diferentes modalidades organizativas, como projetos, atividades habituais, sequências didáticas e atividades independentes, cumprem uma importante parcela – dentre muitas presentes nas práticas sociais de leitura e escrita – que é a de dispor ao alcance de nossos alunos e alunas a possibilidade de interagir com esses materiais escritos e tomá-los como objetos de reflexão.

Mas será que a simples presença dessas listas garante o uso e a reflexão por parte de nossos alunos e alunas? Será que saber ler por si só ou pelo docente o que está escrito em cada lista é o suficiente? 

Mirta Castedo (2014) nos alerta sobre a importância de planejar, desde muito cedo, uma diversidade de situações em que se ensinem leitura e comportamentos leitores. Essas situações devem ser as mais diversas, mas todas elas devem proporcionar a possibilidade de as crianças coordenarem seus saberes diante das informações que o texto e a situação preveem. Partindo dessas contribuições, podemos avançar ainda mais em nossos questionamentos a respeito de como têm sido nossas intervenções e encaminhamentos para que as crianças utilizem, de forma cada vez mais espontânea e autônoma, as listas e outros materiais que circulam na sala de aula. 

Diante de todas essas indagações, nosso objetivo é analisar práticas e abrir um espaço de diálogo e reflexão sobre como dar ainda mais luz a situações em que as condições de ensino e as práticas sociais de leitura e escrita sejam partes inerentes do ambiente alfabetizador. Esperamos vocês para esse papo no nosso curso: Como criar ambientes alfabetizadores potentes na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, na Programação de Inverno do Centro de Formação da Vila.

Lerner, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Castedo, Mirta. “Situaciones de lectura en la alfabetización inicial: la comunidad en la diversidad”. IN: Enseñar y aprender a leer: jardín de infantes y primer ciclo de la educación básica. Buenos Aires: Centro de Publicaciones Educativas y Material Didáctico, 2014.

 

Programação de Inverno 2024 no Centro de Formação da Vila

Veja abaixo o link de alguns cursos e acompanhe as postagens no

Blog do Centro de Formação da Vila

Cursos presenciais:

Como criar ambientes alfabetizadores potentes

Educação antirracista nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Currículo e avaliação formativa nas Ciências da Natureza

Eu, você, nós! Assembleias, comissões, tutorias: práticas colaborativas e participativas na sala de aula.

Discurso argumentativo no Ensino Fundamental II: leitura, escrita e oralidade

Recursos para os desafios da gestão escolar: reuniões produtivas, decisões em equipe e encaminhamento de conflitos e conversas difíceis

Configurando espaços e recursos para potencializar a criação, imaginação, investigação e brincadeiras

Os jogos favorecem as aprendizagens matemáticas. Sempre? Como?

STEAM e Maker: reflexões e propostas para engajar estudantes ativos

Instantes Sonoros e Literários: a música e a literatura ampliando as possibilidades da apreciação estética

Aprender a escrever escrevendo. Propostas didáticas para a formação de escritores competentes

Caminhos na leitura de livros ilustrados – da estética literária à perspectiva antirracista

Os nomes próprios e as palavras de referência no processo de alfabetização

Leitura literária nas aulas de inglês: língua e cultura na construção de um currículo decolonial

Cursos online:

Atividades diversificadas: avaliação e planejamento em salas de alfabetização

Educação Digital: riscos, desafios e potencialidade pedagógica da IA na sala de aula

Minha turma é difícil! O que fazer? Ferramentas didáticas e reflexões teóricas

Rotinas de Pensamento: caminhos para tornar a aprendizagem visível

Descolonizando o Ensino: Integração da Legislação Educacional e Práticas Pedagógicas Insurgentes

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *