Práticas antirracistas pautadas nos territórios: pedagogias de favela e narrativas quilombolas

por Ricardo Jaheem

 

O que seria da prática docente sem a reflexão, sem a oportunidade de rever os olhares e pensar novos caminhos para a sua fundamentação? Este texto convida você, educador ou educadora, a (re)pensar nas possibilidades de aprendizagens presentes em dois territórios: as favelas e os quilombos.

De que lugares falamos quando citamos a educação antirracista? Pense no desenho de suas práticas, nas dimensões utilizadas para a determinação das temáticas e na relação com o currículo. Saibam que o ponto de partida, a definição de objetivos da prática antirracista precisa de delimitações e de conexão com os territórios. Por isto, se faz necessário uma inserção positiva destes territórios no cotidiano escolar.

Vamos olhar para a diversidade étnico-cultural brasileira e as suas muitas vozes, refletindo sobre “o que cabe” nesta educação antirracista, como será definida a abordagem e que sujeitos negros são concebidos nestas intervenções. Com este exercício criamos um movimento necessário para evitar generalizações e pautar o antirracismo em histórias que possuem uma relação direta com a diversidade dos territórios e das identidades.

Falo aqui do desafio que permeia o planejamento de todo educador, construir uma prática de enfrentamento ao racismo no cotidiano que não seja pautada nas dores e no senso-comum. Um planejamento que destaca as potências, saberes e a pluralidade cultural. Um movimento justificado pela necessidade de (re)afirmar e (re)significar uma identidade negra positiva.

Superar os estereótipos é a nossa missão diária, mas para isto precisamos lembrar que os territórios fazem parte da construção complexa e coletiva das identidades e que cada sujeito vai se projetar de maneiras diferentes nestes lugares. Por exemplo, uma das formações que realizei uma professora pediu para explicar melhor este conceito que trago diversas vezes em nosso texto e não deixo de repetir nas formações, a identidade racial positiva. Em sua fala, ela demonstrava um desconforto e até um limite de participar das mobilizações para trazer referenciais afro-brasileiros. Como estratégia didática respondi com os seguintes versos:

“Na capa do jornal eu tô mal, 

na TV meu povo é como animal.

Na favela aprendi a histórias contar,

Foi no quilombo que vi no meu cabelo crespo,

Lindas tranças brotar.

Nestes dois mundos, aprendi a educar.”

Versos que foram improvisados, versados, numa arte ancestral favelada de utilizar a rima como uma estratégia de transmitir o conhecimento pela oralidade. A resposta foi suficiente e pela voz consegui demonstrar a segregação e destacar o processo de formação de uma identidade racial positiva. Ainda, demonstrar o papel da oralidade e da sabedoria aprendida com os mais velhos.

Partindo desta reflexão proponho uma imersão em dois contextos sociais: a favela e o quilombo. Um desafio de integrar no mesmo campo de ação diferentes territórios, com a proposta de romper com os tensionamentos e pautar as práticas nas narrativas, experiências e nas vozes destes lugares. 

Retorno a pergunta realizada inicialmente pela professora e trago estes territórios como um universo de possibilidade: eis aqui um campo de possibilidade para afirmarmos o positivo. Para isto se faz necessário a ampliação do repertório docente centrado sua investigação-ação nas teias de conhecimento elaboradas cotidianamente. 

 Além disso, é preciso fortalecer o entendimento da oralidade, da literatura, dos discursos, dos registros de práticas educativas, da corporeidade favelada/quilombola e das múltiplas representações culturais como determinantes para uma educação antirracista. É possível e preciso propor uma ação direcionada para territórios que são historicamente silenciados pela educação formal e que agora, neste movimento coletivo, pode servir como aporte para a ampliação de nosso repertório docente.

 

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