Repensando a escola: teorias e práticas para uma educação antirracista

Por Bianca Laurino e Fábio Conceição

Oferecer cursos de formação com a temática antirracista para profissionais da educação básica não é tarefa nada fácil. Por um lado, a lacuna na formação de educadores e educadoras ainda é bastante grande, então o desafio parece sempre algo inalcançável. Por outro lado – e paradoxalmente –, nos últimos anos a corrida para dar conta do atraso se intensificou, e muitas iniciativas bacanas surgiram, sendo também difícil fazer escolhas que não nos levem a discutir sempre as mesmas coisas. 

Em 2023, o Centro de Formação da Vila protagonizou uma dessas iniciativas, oferecendo uma Trilha de Formação Antirracista pioneira. Após meses de dedicação em aulas online, ministradas por um time de formadores de peso, quase 70 participantes embarcaram para uma imersão de uma semana em Salvador, onde conheceram diversas escolas, públicas e privadas, bem como outras instituições de ensino afrocentradas que, por meio da cultura, história, memória e luta por emancipação intelectual e política do povo negro, constroem práticas antirracistas de referência, bem antes da Lei 10.639 de 2003 ser aprovada. 

Após essa experiência (e como não poderia ser diferente), o sarrafo foi lá em cima. Ano passado, quando nós fomos convidados para coordenar uma nova versão da trilha, a pergunta que mais veio às nossas cabeças foi: como promover uma formação que, ao mesmo tempo, ofereça os referenciais básicos para aquelas pessoas que ainda não iniciaram seus mergulhos no tema e possa ser proveitosa para quem já vem se dedicando a mudar suas práticas pedagógicas a partir de uma perspectiva antirracista, aprofundando algumas discussões? 

Com isso em mente, a Trilha Antirracista do Centro de Formação da Vila de 2025 foi planejada com muito carinho e dividida em 4 módulos. Para quem desejar, os quatro módulos podem ser feitos em conjunto, contando inclusive com um desconto especial para isso. No entanto, será possível, também, realizar os módulos de maneira independente, de acordo com os interesses ou áreas de atuação. 

A formadora Silvane Silva dá início ao percurso, alertando que “os primeiros passos de qualquer estratégia que vise à superação do racismo no ambiente escolar passa por afinar e reeducar o olhar e a escuta para identificar as situações do cotidiano que possam contribuir para a afirmação da existência de uma hierarquia racial entre humanos”. No primeiro módulo, Educação para as relações étnico-raciais: da teoria às práticas intencionais de enfrentamento ao racismo no ambiente escolar, serão debatidos alguns pressupostos básicos para a construção de práticas antirracistas, como a desnaturalização do epistemicídio e do apagamento dos conhecimentos produzidos pelos povos africanos, afro-brasileiros e indígenas no currículo escolar.

Esse movimento de reeducar olhar e a escuta se aprofundará no segundo módulo, Tessituras negras: ateliê de leituras literárias e práticas formativas, em que a formadora Fabiana Carneiro da Silva propõe um percurso que “delimite, debata e construa práticas de recepção da literatura, tendo como eixo a investigação simbólica da realidade a partir das poéticas negro-brasileiras”. Nele, serão compreendidas as estéticas negras como um leque que amplia e complexifica o conjunto das experiências sociais e abre espaço para diálogos transdisciplinares, de modo a reconhecer e valorizar os sujeitos e conhecimentos historicamente excluídos de âmbitos hegemônicos.

No módulo 3, conduzido pela formadora Lisângela Kati do Nascimento, o grupo será convidado a aguçar olhar e escuta para os territórios e vivências com seus sujeitos sociais. Saídas de campo, viagens pedagógicas, estudos do meio, imersões de curta ou de longa duração em territórios serão pautados pelo reconhecimento e pela valorização de saberes e práticas culturalmente diversos. Território, Corpo e Vivências: os estudos de campo numa perspectiva decolonial terá como foco as propostas de deslocamento enquanto ferramentas que possibilitam a vivência em territórios diversos, para que estudantes e professores aprendam com os sujeitos que tiveram historicamente suas epistemologias e alteridades negadas.

 Por fim, a caminhada termina com um módulo que pretende contribuir com a capacitação de educadores e educadoras para lidar pedagogicamente com casos de racismo envolvendo estudantes de diferentes segmentos. Conduzido por nós, o quarto módulo, Lidando com casos de racismo na escola: por onde começar?, buscará oferecer repertório prático de ações que podem ser tomadas no encaminhamento de episódios envolvendo posturas racistas em todos os segmentos, entendendo que o papel da escola é fundamentalmente a formação dos sujeitos. 

Vale destacar que a trilha conta com 5 bolsas integrais para profissionais da educação básica autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. O edital está aberto e recebe inscrições até o dia 19/02/25. Esperamos, com isso, contribuir não apenas para a formação daqueles que serão contemplados com a oportunidade de realizar a trilha, mas também dos demais participantes, que terão interlocutores qualificados para debater e pensar coletivamente. 

Por fim, mas não menos importante, a trilha será inaugurada por uma live com Tiago Rogero, jornalista e autor do livro “projeto Querino: um olhar afrocentrado sobre a história do Brasil” – fruto de desdobramentos do podcast com o mesmo nome –, no dia 25/02/25, às 19h. A partir das contribuições do livro, discutiremos a importância da perspectiva afrorreferenciada para a escola. O debate contará com a presença dos formadores da trilha e, ao final, haverá espaço para perguntas do público. Inscreva-se e venha participar conosco! 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *