Por Sandra Baumel Durazzo, coordenadora da Trilha Formativa de Avaliação
“A avaliação das aprendizagens continua a marcar uma presença relevante no centro dos grandes debates da educação contemporânea, pois é um processo que tem profundas implicações na organização e no funcionamento dos sistemas educativos e das escolas, na forma pela qual os professores organizam seu ensino nas salas de aula ou no desenvolvimento das aprendizagens por parte dos estudantes. Por essa última razão é até mais adequado o uso da designação avaliação para as aprendizagens em vez de avaliação das aprendizagens, precisamente para sublinhar o papel dinâmico que a avaliação deverá ter na promoção e no apoio às aprendizagens, qualquer que seja a sua natureza.” (Domingos Fernandes, em Avaliação, aprendizagens e currículo: para uma articulação entre investigação, formação e práticas. Artigo escrito com base na comunicação apresentada no VIII Congresso Estadual Paulista Sobre Formação de Educadores, 2007)
O processo de avaliação pode estar a serviço de diferentes propósitos: certificar as aprendizagens e competências desenvolvidas ao longo de um determinado período de tempo, recolher informação sobre o desempenho da escola ou sistema educativo; refletir sobre o currículo e contribuir para a melhora na educação. No entanto, como destaca o Prof. Domingos Fernandes, seu principal propósito é promover mais e melhores aprendizagens aos estudantes.
Para que a avaliação seja efetivamente para as aprendizagens, três condições são essenciais: i. clareza sobre o que se ensina e sobre a forma de colher informações acerca do aprendizado dos estudantes; ii. certeza de que todas as crianças e jovens podem aprender; convicção de que a avaliação só alcança seu propósito de servir como dispositivo para a aprendizagem quando se transforma em oportunidade de autoavaliação para estudantes, professores, escola e até o sistema educacional.
Tudo isso é bastante desafiador, claro. Por isso, em 2025, um grupo de formadores experientes do Centro de Formação da Vila conduzirá uma trilha de estudo sobre avaliação. Abordando conceitos fundantes do tema, a trilha pretende instrumentalizar professores e gestores para serem capazes de revisar suas práticas avaliativas no sentido de torná-las mais formativas, i.e., voltadas para melhorar a aprendizagem dos estudantes.
A proposta da Trilha Formativa de Avaliação conta com opções de percurso que atendem às diferentes disponibilidades dos educadores. Serão quatro módulos que podem ser cursados de forma integrada ou independente, sempre com a possibilidade de retomada dos conceitos trabalhados nos módulos anteriores por meio de inputs assíncronos disponibilizados no ambiente virtual.
O primeiro módulo discutirá os conceitos de avaliação formativa e somativa, levando os participantes a compreender a contribuição de cada uma na aprendizagem. Neste primeiro módulo, será abordada também a avaliação de competências, habilidades e procedimentos, destacando as estratégias de ensino e de aprendizagem envolvidas.
O segundo módulo focará na elaboração dos instrumentos de avaliação, com respaldo teórico de três pesquisadores de referência:
- Alicia Camilloni, que destaca dois processos da avaliação: a coleta de informações e a análise e interpretação das informações colhidas.
- Linda Allal, que acrescenta mais uma etapa na avaliação para as aprendizagens: a ação (ou regulação), ou seja, com base nas análises e interpretações, todos os envolvidos na avaliação estão instrumentalizados para agir a favor da aprendizagem.
- Charles Hadji, que descreve os elementos do processo de avaliação: a tarefa a ser realizada (que ele chama de desencadeador), os observáveis e critérios para aferição de resultados.
Estas contribuições serão conceitualizadas e experimentadas pelos participantes da trilha na construção de instrumentos de avaliação.
O terceiro módulo será voltado para os processos de autoavaliação, autorregulação e feedback. Regular a própria aprendizagem é um fator chave na aprendizagem de competências. Como diz Perrenoud, a aprendizagem é um processo de regulação constante e não há regulação que não seja, na verdade, autorregulação. Durante este módulo, serão explorados instrumentos de autoavaliação e diferentes formas de feedback que promovem a reflexão e, consequentemente, a autorregulação e aprendizagem dos estudantes.
Finalmente, o quarto módulo será dedicado a prover um letramento de dados. Paralelamente à coleta de dados de forma eficaz, discutida no módulo 2, é fundamental criar formas de organizá-los, compará-los, estabelecer parâmetros para que esses dados realmente entreguem informações que permitam avançar nos processos de ensino e aprendizagem. O módulo vai apresentar conceitos relacionados ao tratamento de dados e explorar plataformas e seus possíveis usos para efetivar uma avaliação para as aprendizagens.
Como é possível perceber, será um percurso rico, que pretende contribuir com o debate sobre a educação nos dias atuais, tanto para professores quanto para gestores de escolas e instituições voltadas à educação.
Só falta você!