Por Aline E. Martins
O dia a dia na escola é repleto de uma variedade de necessidades, urgências, demandas. Afinal, um ambiente habitado por pessoas curiosas, interessadas em explorar o mundo e em ampliar as experiências não poderia mesmo ser uma calmaria. O fato é que a abundância de atividades, projetos, probleminhas, problemões, negociações, celebrações, entre muitos outros eventos, pode absorver o tempo e a atenção dos educadores de tal maneira, que corremos o risco de viver apenas com o foco no presente.
Há ocasiões em que dar conta de todas as demandas de um dia agitado na escola já é uma vitória a ser celebrada. Contudo, se todos os dias são assim, voltados para o presente ou o curto prazo, tomados pelas urgências, quais são os tempos e as instâncias asseguradas para a avaliação sobre o que fazemos e a reflexão sobre o futuro que desejamos construir?
Pois bem: vamos aproveitar este início de ano para nos deter por uns instantes na reflexão sobre estas questões: que futuro desejamos construir? Para construir esse futuro, que práticas devemos manter? O que devemos abandonar? O que priorizar? O que precisa ser mudado?
Indagações como essas mobilizaram um grande grupo de educadores, oriundos dos mais diversos rincões do planeta, ao longo de dois anos de estudo, debate e produção. O resultado é o relatório Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação, publicado pela UNESCO, em 2022.
Recomendamos fortemente a leitura do documento, que foi uma das referências para a definição da programação do Centro de Formação em 2025. O futuro que desejamos construir é inclusivo e socialmente justo. É sustentável e habitado por seres humanos conectados com o planeta, zelosos por seus recursos, capazes de desenvolver ações de mitigação e adaptação frente aos enormes desafios impostos pelas mudanças climáticas. O futuro que imaginamos é povoado por cidadãos que celebram as diferentes epistemologias e formas de vida, que valorizam a democracia, que assumem responsabilidades perante o coletivo; que são questionadores, investigativos, empáticos, criativos.
A lista não se esgota aqui. Podemos seguir por páginas a fio, identificando nossos compromissos com as gerações do presente e do futuro e elencando prioridades. Diante da impossibilidade de fazer isso, façamos aqui uma pausa para pensar em quais instâncias de estudo, debate e construção oferecemos aos educadores para assegurar boas oportunidades de formação para o enfrentamento de desafios cotidianos, como a convivência e a formação moral, a didática, a gestão do currículo; para a atuação diante de temas emergentes, como a educação digital em tempos de IA generativa, por exemplo; para criar boas condições para que o futuro imaginado seja construído.
Avaliação é, por excelência, uma frente de estudo e trabalho que nos leva a pensar, questionar e ajustar, desde intervenções pontuais em uma aula específica, até o projeto pedagógico da instituição, de forma mais ampla. A trilha formativa de avaliação foi pensada para apoiar a construção de processos avaliativos coerentes, que estejam a serviço das melhores práticas. Por sua abrangência, podemos afirmar que esta trilha dialoga com as três dimensões formativas citadas no parágrafo anterior.
Se imaginamos um futuro inclusivo e socialmente justo, é urgente pensar nos passos que temos dado para preparar professores e gestores para a gestão e a didática inclusiva, o que requer não apenas conhecer marcos legais, mas também: explorar as contribuições do Desenho Universal para a Aprendizagem para o fortalecimento das práticas inclusivas na sala de aula; saber planejar e implementar medidas de apoio; saber construir documentação e planos de adaptação curricular para assegurar que todos e todas possam aprender.
Sobre a educação infantil, convém ressaltar um trecho do relatório da UNESCO:
“Poucos podem ver as coisas como uma criança pode. A atenção das crianças pequenas às experiências dos outros e a curiosidade que demonstram por um mundo desconhecido e cheio de possibilidades são um exemplo para pessoas de todas as idades. Um compromisso com o potencial desse período de emergência para o novo deve caracterizar a educação infantil e, de fato, todos os ambientes educacionais”. (UNESCO, p. 54)
A trilha Navegar pelas Infâncias e a viagem a Reggio Emilia estão alinhadas a essa concepção de infância. O programa fundamenta-se na compreensão da Educação Infantil e na escuta das crianças como um campo fértil para a investigação e o desenvolvimento integral, oferecendo aos profissionais a oportunidade de ampliar seus saberes e de fazer parte de uma comunidade de práticas dedicada à reflexão sobre as questões contemporâneas pertinentes a este segmento da escolaridade.
Reimaginar o futuro implica repensar a escola. Foi com esse espírito que a trilha Repensando a escola: teorias e práticas para uma educação antirracista foi planejada. Ao longo de quatro módulos, serão abordados diversos pontos de partida para a construção de currículos decoloniais e antirracistas; práticas formativas de literatura negro-brasileira; a importância dos territórios como espaços educadores; e encaminhamentos de casos de racismo no contexto escolar.
Por último, mas não menos importante, apresentamos uma trilha formativa que vai ser oferecida pela primeira vez: Educar para a sustentabilidade. De que conhecimentos, práticas, estudos e ferramentas necessitamos para construir um projeto pedagógico que “abrace uma compreensão ecológica da humanidade e que reequilibre a maneira pela qual nós nos relacionamos com a Terra como um planeta vivo e como o nosso único lar”? (UNESCO, 2022)
Mobilizados por essas preocupações, um time de educadores altamente especializados elaborou um percurso formativo composto por quatro módulos de aulas online síncronas, articulados a uma imersão optativa na Escola Parque e no Parque da Cidade, no Rio de Janeiro.
O ano letivo está prestes a começar. Vislumbramos dias animados, repletos de acontecimentos interessantes, conversas instigantes, conflitos que preocupam e aborrecem, mas também ensinam, enfim: o movimento intenso e pulsante da vida na escola, com toda a sua complexidade. É claro que o presente vai nos absorver. Fica, porém, o convite para que estejam conosco, uma vez por semana, online, no período noturno, para, em companhia dos nossos formadores, desfrutarem de momentos de criação coletiva de novos conhecimentos e novos futuros possíveis.