blog-aula-expositiva

Nem aula expositiva, nem as metodologias ativas

Paulo Blikstein, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), afirmou em palestra ministrada há alguns anos, que o construtivismo é a ciência cognitiva mais aceita pelos investigadores na área das ciências da educação e que, muitas vezes, não usam este nome em função da disseminação equivocada de seu sentido. Compreensível, o termo construtivismo vem sendo utilizado para designar coisas distintas e por vezes opostas às suas teses centrais.

Ao defender esta perspectiva teórica, o referido professor ressalta, entre outras coisas, a ideia de que o ser humano, por instinto de sobrevivência, constrói micro teorias sobre tudo, desde sempre. As microteorias nada mais são do que a expressão mais clara da inteligência: porque as coisas pesadas afundam, de onde vem a chuva, para onde vai a comida, porque as coisas ficam úmidas, como amadurecer uma fruta verde fora do pé, etc. A característica essencial das micro teorias são a sua utilidade, e por isso mesmo elas são resistentes a mudanças, pois se mudam muito rapidamente, perdem a utilidade.

Ir além da aula expositiva

O desafio da escola é exatamente ensinar as teorias complexas, que são, no mais das vezes, contraintuitivas, contrárias às experiências imediatas e por isso encontram resistência para serem aprendidas. Muito já se escreveu e pesquisou sobre isso: a oposição ou contradição entre as teorias ingênuas, fruto das experiências imediatas e as teorias científicas, produzidas por meio de métodos rigorosos e submetidas às validações coletivas. Muitas vezes, quando simplifica-se o complexo na escola, para poder ser compreendido, corremos o risco de, à despeito do ensino, os alunos permanecerem com teorias ingênuas remanescentes. Um exemplo clássico é a teoria da evolução da espécie.

Os estudantes aprendem que a evolução acontece por meio da seleção natural: alguns indivíduos de uma população naturalmente diversa geneticamente, apresentam características que aumentam sua probabilidade de deixar descendentes. A cada geração, por ação da seleção natural, vai aumentando o número de descendentes com essas características, e assim, após algum tempo, essa característica torna-se mais frequente naquela população. Ainda assim, entre os estudantes permanecem ideias como a de que um indivíduo se adapta intencionalmente ou inconscientemente para sobreviver, como se a evolução fosse um fenômeno individualizado e uma resposta às necessidades da espécie, como por exemplo, a ideia de que as bactérias se adaptam ao remédio (ao invés de entender que um remédio é um fator de seleção natural sobre a população de bactérias).

Isso acontece especialmente quando a escola se contenta em substituir a resposta errada pela certa como se fosse evidência suficiente do aprendizado. Não é! Para termos a certeza de que o aluno compreendeu e sabe aplicar aquele conhecimento, é preciso que ele o faça em diferentes contextos e não apenas naquele em que aprendeu.

Compreender como o aluno aprende

Em razão destas afirmações, que nos levam a entender o imperativo da reconstrução das teorias para que sejam aprendidas, é que se criou o mito de que a escola construtivista é contra a aula expositiva. Não é! No entanto, não se pode ter a ilusão de que o ensino começa e acaba ali, na apresentação do professor.

É também na esteira destas constatações que ganha força nas escolas novos ambientes para aprendizagens mais centradas no fazer do estudante. Renova-se a terminologia da escola nova, que desde o século passado argumenta a favor do protagonismo e da centralidade do aluno nos processos de ensino e aprendizagem.

No entanto, é preciso atenção. Os laboratórios de práticas são importantes aliados na busca por um ensino menos transmissivo, que convoque o aluno à ação. Mas não esqueçamos que sem reflexão conceitual, sem esforço cognitivo, sem atividade intelectual, a aprendizagem se restringe a procedimentos e técnicas. O Maker, o STEAM, o PBL, a sala de aula invertida, a aprendizagem por pares, só serão boas propostas se contemplarem a dimensão reflexiva e cognitiva. Por que deu certo? Como explico isso? Como isso funciona e porquê – são perguntas-chave nas propostas mão na massa.

Nem a aula expositiva, nem as metodologias ditas ativas resolvem por completo os desafios de ensinar e fazer aprender. Segue fundamental compreender como as pessoas aprendem, para mediar a relação delas com os conteúdos. E, como afirma e insiste o professor Zabala, sem perder de vista que o propósito da escolaridade básica é o desenvolvimento de competências para a vida!

 

Escrito por Sonia Barreira – educadora há 40 anos, fundadora da Escola da Vila e diretora pedagógica da Bahema Educação
Os textos aqui publicados não refletem, necessariamente, a opinião do Centro de Formação.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *