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A formação docente como base para a implantação do Novo Ensino Médio

Neste ano de 2022, as escolas estão implantando o Novo Ensino Médio (NEM) na 1ª Série do segmento. A primeira legislação que a educação brasileira é obrigada a seguir tem provocado críticas, algumas pela consistência da mudança e outras pelos desafios impostos à implantação.

De certa maneira, a proposta atende aos anseios antigos de muitos educadores, principalmente no que tange à avaliação por competências, à flexibilização do currículo e ao aumento da carga horária. Porém, mesmo em consonância com necessidades para uma formação contemporânea, focada nos desafios do século XXI, a reforma não fica isenta de pontuações até mesmo de quem a defende.

BNCC – Base Nacional Comum Curricular

A BNCCBase Nacional Comum Curricular, documento que publica para todo o país as competências a serem desenvolvidas em cada ano da escolaridade, é um instrumento indispensável para a elaboração das propostas do NEM. A construção curricular das escolas precisa de reformulação, elencando o que é básico, necessário e progressivo, deixando para o Itinerário Formativo, parte flexível do currículo, o que os(as) estudantes podem ampliar, aprofundar e aplicar a partir das suas escolhas.

Importante destacar que a BNCC não é o currículo e que as equipes pedagógicas das escolas poderão construir o repertório tendo como base a realidade da comunidade escolar, os desafios locais e as perspectivas de intervenção dos alunos(as) nas problemáticas reais do planeta. Para contribuir na elaboração das propostas curriculares das escolas, os Conselhos Estaduais de Educação de cada estado fizeram uma releitura da BNCC, trazendo, além de identidade regional, discussões acerca de processos de ensino/aprendizagem e avaliativos.

No país que historicamente oferece um número de vagas nas universidades públicas muito inferior à demanda, o que consequentemente promove uma acirrada concorrência para a entrada nestas instituições, a reforma faz um giro histórico na elaboração curricular. As escolas que ofertam o Ensino Médio, principalmente as tradicionais, que sempre tiveram como referência as matrizes dos vestibulares e o ENEM como eixo vertical da estrutura dos seus currículos, precisam repensar suas propostas, mirando uma educação com mais sentido e voltada para a transformação do planeta, tendo a entrada na universidade como mais um desafio e não como único propósito dos anos finais da educação básica.

Escola no espaço de construção de autonomia dos alunos

Por parte dos alunos e alunas, a escolha por uma trilha de conhecimento ou eletiva, além de ampliar e flexibilizar os percursos, potencializa o lugar da escola como espaço de exercício e construção de autonomia. Do ponto de vista das ofertas, as escolas precisam construir escolhas que façam sentido para os(as) alunos(as) e que lancem desafios que instiguem a intervenção dos(as) estudantes(as) no mundo a partir da sua realidade local e sua identidade. A lógica do ensino e avaliação por competência escapa ao conteudismo e abre portas para a criatividade, mobilizando saberes, intenções e aplicações de conhecimentos na vida real, despertando ou consolidando o prazer pelo estudo. Esse movimento faz vacilar a ideia de que se estuda para construir um futuro potente e promissor apenas na esfera do trabalho e que as escolhas de agora precisam ser dirigidas exclusivamente para esse fim.
A possibilidade de flexibilização e aplicação do que se aprende está relacionada às questões do presente, visando a realidade e o contexto de que o(a) aluno(a) faz parte, implicando sentido ao saber, promovendo transformações e consequentemente melhoria de vida. Assim, é importante pensar que, ainda que muitos apontem como “escolha precoce” a decisão por determinado percurso logo no ingresso ao Novo Ensino Médio, se a escolha fizer sentido no hoje, naquilo que o(a) estudante desejar no momento, ela não será precipitada. Tudo vai depender das ofertas e de como a eleição pelo(a) aluno(a) será conduzida.

Envolvimento da Equipe Pedagógica no Novo Ensino Médio

Uma questão fundamental que pode contribuir para amenizar parte das críticas é o envolvimento da equipe pedagógica no estudo dos documentos e na construção do currículo. Para isso, cabe à gestão das escolas organizar e disponibilizar tempos e espaços para encontros, discussões e elaborações. Sendo uma reforma robusta e que esbarra em paradigmas históricos, tanto para educadores quanto para a sociedade, a formação continuada de professores(as) é pré-requisito indispensável para uma transformação gradual e efetiva na construção de uma educação que valorize o protagonismo e que dê sentido e gosto ao aprender.

A última década do século XX foi marcada pelo avanço exponencial da internet, que transformou e tem marcado a sociedade contemporânea. Dentre as várias mudanças sociais e econômicas acarretadas por esse novo contexto, duas perspectivas se fazem importantes para o debate atual da educação: a construção do conhecimento, que deixou de ser visto como algo linear e passou a ser em rede e o compartilhamento de saber como forma mais potente e generosa de mobilização dos sujeitos.

Pensando nessa realidade da rede e do compartilhamento associados à implantação da reforma, que tem projeção gradual de consolidação até 2024, não se pode apartar das discussões a reflexão sobre a tecnologia e suas potencialidades na construção de conhecimento e engajamento dos(as) alunos(as). Os debates e a formação dos docentes precisam ser permeados de modelos tecnológicos que servirão como disparadores e mobilizadores. Tendo em vista a responsabilidade intrínseca na possibilidade de se construir um currículo básico e um flexível para o segmento, a homologia de processos nos espaços de formação dos educadores aponta como uma estratégia potente.

Trocas de experiências sobre o Novo Ensino Médio

Sendo assim, o investimento em trocas e compartilhamento de experiências sobre o Novo Ensino Médio se torna necessário dentro e fora das escolas. A mudança é grande e necessita de várias frentes e olhares. Estamos beirando uma revolução bastante esperada do processo educativo, e uma revolução só acontece com o esforço de muitos.

Frente a isso, o Centro de Formação da Vila organizou, junto às escolas Bahema, uma programação de Inverno exclusiva para este tema, com palestras, mesas-redondas e práticas de trilhas, de eletivas e de projeto de vida, todas já implantadas pelas escolas do grupo.

 

Veja a programação no link.

 

Escrito por Sérgio Porfírio – Diretor do Grupo Balão Vermelho, Belo Horizonte

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