Reflexões sobre a formação docente
Planejar e gerir as aulas de Matemática, de forma a promover envolvimento por parte das crianças e uma aprendizagem significativa, segue sendo um desafio para muitos de nós, professores e professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental. Formados e formadas nas faculdades de pedagogia, em uma perspectiva mais generalista, e, muitas vezes, tendo estabelecido uma relação também frágil com a disciplina quando alunos e alunas do ensino básico, os/as docentes costumam relatar algumas dificuldades para pensar encaminhamentos favoráveis à aprendizagem em sala de aula.
Construção do conhecimento
Questões advindas desse contexto permeiam o discurso educacional. Algumas delas ligadas ao ensino e aprendizagem de conteúdos da área: como ensinar o sistema de numeração? Como promover o entendimento do valor posicional? Como relacionar esse conhecimento com a aprendizagem da conta armada? Outras se colocam no sentido de pensar meios e recursos para desenvolver boas intervenções: o material concreto favorece o entendimento do algoritmo? Devo usar pizzas e chocolates para ensinar frações? E qual o papel dos jogos? O que significa um trabalho pautado na resolução de problemas? Outras ainda trazem o grande desafio de pensar a relação com o saber: como atuar para que as crianças superem o discurso de que a disciplina é difícil e de que apenas algumas pessoas, detentoras de uma “capacidade admirável”, têm sucesso na área? Como fazer com que as crianças se envolvam com as atividades?
Essas e outras perguntas são frequentes nos cursos de atualização docente da área de Matemática. Para respondê-las, é necessário realizar um percurso formativo que envolva a construção do conhecimento sobre alguns dos aspectos envolvidos na situação didática. Importante observar que muitas das questões estão regidas pela palavra “como”, o que nos faz pensar que os professores e professoras estão buscando meios e práticas que levem à aprendizagem. Mas vale ressaltar que para pensar em intervenções é fundamental aprofundar a reflexão sobre dois outros aspectos que dão subsídios a elas: a definição sobre o que significa “saber matemática” e quais seriam os conhecimentos da área que se pretende ensinar; e a compreensão sobre o processo de construção desses conhecimentos por parte das crianças.
Fazer Matemática na sala de aula
Dessa forma, ações consistentes de formação, como a Trilha formativa: Fazer Matemática na sala de aula, do Centro de Formação da Vila, consideram que para promover reflexões sobre como intervir nas situações didáticas, deve-se levar os professores e professoras a realizar análises da produção das crianças, apoiadas nas investigações sobre construção do conhecimento matemático. Ou seja, levar os/as docentes a pensar sobre: o que as crianças já sabem; que hipóteses elas elaboram; que conhecimentos implícitos encontramos em suas estratégias e respostas. Partindo daí, boas devolutivas e perguntas podem ser feitas aos alunos e alunas; outros problemas podem ser construídos; novas atividades podem ser planejadas; debates podem ser instaurados; conceitos podem ser validados; e institucionalizações podem ser concretizadas.
Dessa maneira, os professores e professoras passam a ter mais subsídios para tornar a sala de aula um espaço voltado para o “fazer matemática“, centrado na resolução de problemas e possibilitando, então, que nossas crianças possam fazer uma trajetória diferente daquela vivenciada por muitos/muitas de nós. Só assim conseguiremos superar a ideia de um ensino centrado na conta armada e dominado pelos exercícios, a fim de promover uma aprendizagem com sentido e permitir que as crianças estabeleçam outra relação com o saber matemático.
Escrito por Laís Oliveira – Formadora do Centro de Formação da Vila