Visitar uma escola pode ser uma experiência absolutamente transformadora para educadores com olhares curiosos. Há sempre um universo rico quando o educador se propõe a fazer uma análise reflexiva daquilo que observa. Um passeio supostamente despretensioso pode se tornar um momento muito especial de exame e aprendizado.
Toda a complexidade da realidade escolar, dos movimentos do cotidiano, da rotina das relações, da dinâmica dos tempos e espaços ficam expostas, sem filtros, sem disfarces. É a escola na sua essência, com suas potencialidades e fragilidades à mostra.
Quando o espectador observa de forma crítica, amplia ainda mais o seu campo de análise. Do olhar curioso, passa a se ter uma visão mais apurada, que busca as sutilezas dos ambientes, dos objetos e das transições. É quando o que é visto desestabiliza. Quando as certezas desmoronam e as dúvidas são edificadas. É quando o observador realmente compreende as intencionalidades, fazendo as relações e acumulando experiência do olhar.
Mas o que olhar?
Para aproveitar bem o passeio e buscar o máximo de informações, tudo deve ser ponto de observação. Da arquitetura do prédio até o mais singelo gesto de uma criança. Tudo pode se tornar objeto de investigação e busca por aprimoramento.
O desenvolvimento da aprendizagem ocorre em função das relações com o ambiente. Os espaços escolares precisam ser educativos. As informações não podem estar desprovidas de contexto, caso contrário, não geram conhecimento. A teoria e a prática precisam andar juntas para que exista no processo uma coerência pedagógica.
As paredes, na maioria das vezes, são as principais responsáveis por contar aquilo que a escola quer comunicar. Os olhares do observador precisam estar focados na riqueza dos estímulos e buscar entender como foi feita a curadoria daquilo que as paredes apresentam. Quais são as intencionalidades? As crianças conseguem dialogar com as paredes? Existem conexões? Quais as relações entre a estética e a funcionalidade? Essas são perguntas que o observador precisa fazer.
O mesmo ocorre na disposição dos mobiliários que fazem a composição dos espaços de aprendizagem. Existem soluções inovadoras na arquitetura das salas? Há possibilidades de criação? As estruturas e brinquedos do pátio são desafiadores e seguros? Há harmonia na relação entre cores, formas e texturas? Essas também são perguntas imprescindíveis.
Tempos, espaços e olhares
Não menos importantes são as questões relacionadas aos tempos organizados pela escola. É no tempo que as relações são estabelecidas. É preciso observar os hábitos, as ações e os períodos de trocas. Entender como a dinâmica do tempo foi planejada para provocar os encontros e fazer sentido para um conjunto de relações e de práticas. É na invisibilidade do tempo da escola que o olhar do observador precisa focar. As pessoas estão conseguindo fazer o que se propõem? Há cadência nas ações? É possível perceber o ritmo da escola?
O observador se torna experiente quando consegue perceber as sutilezas dos tempos, espaços e interações sociais. Quando entende as escolhas feitas pela escola e consegue ver a proposta pedagógica materializada diante dos olhos.
Escrito por Filipe Gattino – Diretor Infantil e Fundamental 1 da Escola Autonomia