A Educação Infantil é um espaço de significativa e intensa utilização das mais variadas formas de gestos: sentar na roda, brincar nos cantos, desenhar, correr no parque, pintar no mural, jogar, entrar numa cabana, lanchar, preparar um alimento. A todo tempo a criança se constitui corporalmente nas relações de movimento, de espaço e de cuidado consigo mesma e com o outro, de forma íntima, singular, criativa e diversificada.
Para que essa corporeidade possa ser vivida, valorizada e melhor compreendida na escola, quero trazer à tona três aspectos: os educadores e seus corpos, a estruturação do espaço e dos materiais e a intervenção nas propostas lúdicas e corporais.
Por ter um papel fundamental na mediação da criança com o corpo em movimento, os educadores precisam saber e estudar mais sobre o corpo, assim como estudam os demais campos de experiência desta faixa etária. Porém, antes de iniciar este estudo, sugiro que coloquem para si as seguintes questões: Como foram as suas trajetórias corporais e lúdicas desde a infância até a vida adulta? Que lugares, pessoas e situações marcaram suas experiências positiva e/ou negativamente com o movimento? Este saber sobre a sua história, sobre a relação com o se movimentar, sobre conhecer as suas possibilidades e limites corporais através dos gestos é algo que precisa ser recuperado e restaurado para que os educadores possam dar mais sentido, significado e autenticidade ao que vão estudar e propor às crianças.
A estruturação do espaço e dos materiais disponíveis também revelam a ideia que se tem do corpo em movimento como mais ou menos frágil, potente e autônomo. Ambientes compartimentalizados, com restrição de acesso, salas fechadas, sem comunicação com o espaço externo, chão e pilastras revestidas limitam a corporeidade das crianças e contrastam com espaços que se comunicam, com brinquedos e materiais que convidam a livre exploração e descobertas de inúmeras possibilidades corporais. Desta forma, a arquitetura de uma escola de Educação Infantil está intrinsicamente relacionada ao conhecimento do corpo em movimento das crianças.
Em relação às intervenções, cada criança e cada turma deve existir sob os olhares, as interações, os sinais, as escutas e falas (não verbais inclusive) dos educadores. Estar entregue, presente de corpo inteiro em cada situação da rotina é fundamental. Uma atitude respeitosa, não invasiva, mas ao mesmo tempo convidativa para a participação das crianças nas propostas corporais também deve ser considerada, assim como a disposição e a disponibilidade corporal para o movimento.
No curso “O corpo em movimento na Educação Infantil”, que acontecerá online de 05 a 13 de Abril, no Centro de Formação da Escola da Vila, a partir da apresentação de princípios construtivistas, trataremos de uma corporeidade que possa ser prazerosa, possível, inusitada, desafiadora e simbólica para as crianças e educadores.