Os clubes de leitura não são propriamente uma novidade mas, atualmente, estão em alta. Não se confundem com os clubes (ou círculos) do livro que são programas de assinatura por meio dos quais os assinantes recebem livros em edições especiais.
Há quem diga que a prática de ler livros e discutir sobre eles nasceu antes mesmo da Revolução Francesa. E também há quem diga que essa história começou na Grécia Antiga, com Sócrates e seus discípulos. É difícil de concordar com isso já que Sócrates não escrevia – era contra seus princípios – portanto as célebres discussões giravam em torno de ideias – mas não de ideias colocadas por escrito.
Um dos primeiros clubes de que se tem notícia é o Junto Club fundado pelo cientista, inventor, político e homem de negócios norte-americano, Benjamin Franklin, Durante 38 anos, Franklin e um grupo de 12 homens encontravam-se todas as sextas para conversar os mais variados assuntos. As conversas eram guiadas por livros e perguntas. A primeira delas era:
“Você encontrou algo digno de nota no texto que leu recentemente, que seja pertinente para ser comunicado ao Junto? Particularmente sobre história, moralidade, poesia, física, viagens, artes, engenharia ou outros aspectos do conhecimento?”
Noë Richter, curador-chefe da Biblioteca da Universidade de Mans associa a criação dos clubes de leitura com a popularização das bibliotecas. Até hoje, na França, não há biblioteca sem clube de leitura.
Clubes de leitura no Brasil
No Brasil, os clubes começaram a ganhar força quando a Penguin Books (editora inglesa) associou-se com a Companhia das Letras. Junto com a publicação de uma série de clássicos, veio a prática dos clubes. Atualmente, são mais de 50 clubes espalhados pelo país, incluindo alguns em penitenciárias.
E, além da Companhia, outras editoras, livrarias, bibliotecas, cemitério e outros espaços como a Escrevedeira ou SESC, têm seus clubes. Alguns, como o Leia Mulheres , por exemplo, é exclusivo para a leitura de autoras; outros, podem ser voltados para leitura de um gênero ou autor específicos e há, ainda, aqueles que discutem livros que tratam de temas como racismo, política, arte, entre outros.
Como os educadores já sabem, a leitura de textos literários – seja ficção ou não ficção – desenvolve saberes que dificilmente poderiam ser desenvolvidos de outro modo: o pensamento aprofundado e crítico; a capacidade de seguir uma narrativa; o conhecimento sobre outros modos de viver e pensar; a oportunidade de se colocar no lugar do outro ou, ainda além, de se tornar outro, ampliando a sua possibilidade de leitura de mundo e ressignificação própria. E todos esses saberes são aprofundados quando a leitura é compartilhada com outros leitores, como ocorre numa roda de clube de leitura.
Como funcionam?
O funcionamento dos clubes de leitura é muito simples: um grupo de pessoas, que leu um mesmo livro, reúne-se mensalmente para discutir a obra lida com a presença de um mediador. Este mediador é, geralmente, alguém com bastante experiência em leitura e com talento para fazer a ponte entre as pessoas e os livros e entre as próprias pessoas. O mediador também atua para que os participantes saibam, cada vez mais, posicionar-se frente a um texto, dialogar com o autor, perceber o encadeamento de ideias e argumentos, sensibilizar-se com a beleza da construção do texto, interpretá-lo de mais de uma maneira, ficar atento à complexidade da trama, apreciar a maneira pela qual o autor constrói os personagens ou apresenta os diálogos. Além disso, ele também faz a curadoria dos livros – sentindo o grupo, entendendo como pode contribuir para ampliar o repertório dos participantes e levá-los a ler o que não leriam por conta própria.
Tudo isso num espaço onde todas as colocações a respeito da leitura são ouvidas e respeitadas – o que torna o clube de leitura também uma prática da democracia. Num mundo em que a predominância das informações fragmentadas, rápidas, superficiais e de fácil acesso que nos distanciam cada vez mais de uma compreensão mais profunda, crítica e autônoma da realidade, esses conhecimentos são preciosos.
Saber ler, no sentido amplo da palavra, significa ser capaz de dar sentido, filtrar informações, posicionar-se com argumentos sólidos, fundamentar ações – ou seja, ser capaz de construir uma representação de mundo abrangente e complexa.
Benefícios desse formato
O formato do clube de leitura favorece, também, aproximação das pessoas. A experiência da leitura compartilhada, a troca de impressões, a possibilidade de ouvir e falar sobre as emoções despertadas pela leitura cria um vínculo afetivo e uma sensação de pertencimento que é, também, cada vez mais rara hoje em dia.
Organizar um clube não é muito difícil. Escolas – com suas comunidades leitoras de educadores, pais ou mesmo alunos – são espaços adequados para realização dos encontros. É fundamental, entretanto, que a adesão seja voluntária. É possível pensar em clubes apenas de educadores, apenas de pais ou fazer tudo junto e misturado.
Ter um clube de leitura na escola, além de trazer todos os benefícios já arrolados, reforça a importância da leitura na e para a comunidade escolar e passa o recados aos alunos de que a leitura é verdadeiramente valorizada, não apenas no discurso mas, também, na prática.
Escrito por Claudia Aratangy
Fontes consultadas:
The best book clubs throughout history
Aux origines de club de lecture – Noë Richter
Junto Club
Nádia Dorian Machado
Adoraria participar de algum Clube, leio e fico sem interlocutores. Não é verdade que brasileiro não lê, às vezes não tem é dinheiro para comprar pão quem dirá , livros. Costumo passar ou deixar os livros que leio em algum lugar público para que cheguem nas mãos corretas.