Por Adriana Miritello Terahata, Professora do Ciclo 2 da Escola da Vila
Escola é comunidade: espaço tecido por encontros e desencontros, descobertas e desafios. Lugar de múltiplas vozes e histórias, onde se desenvolvem não apenas conhecimentos acadêmicos, mas também valores humanos. Como apontam Vinha et al. (2019), a escola é um ambiente privilegiado de convivência e, por isso, pode – e deve – ser um espaço para a construção de uma convivência mais democrática, promovendo o desenvolvimento moral das crianças.
Na Escola da Vila, acreditamos que o processo de ensino-aprendizagem vai muito além do domínio de conteúdos pedagógicos. Ele envolve a construção de valores, o desenvolvimento da autonomia e o fortalecimento do senso de coletividade. E é nesse contexto que diálogo e cooperação tornam-se pilares fundamentais da formação dos estudantes.
Esse desenvolvimento, no entanto, não é automático nem espontâneo: é uma conquista contínua, construída nas experiências do dia a dia e que se dá ao longo do tempo. Cabe à escola criar essas situações formativas, nas quais os estudantes aprendem a considerar suas próprias necessidades e desejos sem desconsiderar os dos outros. Como afirma Puig (1988), ao entrar na escola, a criança amplia significativamente seu universo, passando a vivenciar novos papéis, interações e desafios que contribuem para a sua formação moral.
Nesse contexto, o diálogo é meio e fim. É nele – e por meio dele – que as aprendizagens acontecem. Assim, é fundamental tratar o diálogo como conteúdo a ser ensinado, e as propostas de um fazer colaborativo como contexto formador: o trabalho em grupo e as assembleias.
O trabalho em grupo: experiência de aprender com o outro
A experiência de trabalhar com o outro vai muito além da aprendizagem de conteúdos pedagógicos: ela ensina a escutar, respeitar, colaborar, argumentar e compartilhar decisões. Na Escola da Vila, compreendemos que os agrupamentos são fundamentais tanto para a aprendizagem desses conteúdos quanto para o desenvolvimento de valores.
O trabalho em grupo exige esforço coletivo para que o respeito e a colaboração estejam sempre presentes. É essencial que todos tenham espaço para expressar suas ideias, participando ativamente e sentindo-se valorizados e, essa dinâmica nem sempre é fácil, especialmente para crianças pequenas.
Como destaca Puig (1998), “os problemas morais têm muito a ver com pontos de vista e desejos pessoais contraditórios, assim como com interesses e perspectivas coletivas contrapostas”, e é na possibilidade de enfrentamento desses conflitos que a formação moral também se dá. Dessa forma, o trabalho em grupo proporciona experiências de participação, resolução coletiva de conflitos e tomada de decisões compartilhadas.
Por isso, os grupos devem ser formados com intencionalidade: não basta reunir estudantes aleatoriamente, é necessário garantir que todos possam contribuir, que papéis estejam definidos, e que o espaço seja cuidado para possibilitar interações pautadas pelo diálogo e respeito.
Voltando às nossas práticas pedagógicas, cabe refletir: como os grupos são formados? Que papéis as crianças desempenham neles? O que observamos enquanto elas trabalham juntas?
Assembleias: ampliando as práticas participativas
Além dos trabalhos em grupo, as assembleias de classe e escolares ampliam e aprofundam as vivências de participação. Elas são práticas potentes para o fortalecimento do diálogo e da corresponsabilidade entre estudantes. Nelas, as crianças discutem questões relevantes, propõem ideias, tomam decisões coletivas e refletem sobre suas atitudes, o que contribui para a construção de um senso de pertencimento e de responsabilidade coletiva.
Como aponta Araújo (2004), as assembleias ajudam as crianças a compreender os limites sociais, favorecendo a resolução pacífica de conflitos e a formação de sujeitos mais justos e comprometidos com o bem comum. Essa prática também transforma as relações interpessoais e favorece a autonomia, sendo um caminho potente para escolas que desejam construir projetos pedagógicos baseados em princípios democráticos.
Um convite à formação
Ao participar de experiências coletivas e colaborativas, as crianças dão ideias, sugestões e, de modo coletivo, podem discuti-las, avaliá-las e decidir se serão aceitas ou não. O trabalho em grupo e as assembleias proporcionam momentos em que as crianças podem exercitar sua capacidade de organização e de respeito às diferenças entre os pontos de vista, tentando coordená-los de forma a atingir as melhores soluções coletivas.
Para que essas experiências sejam efetivas, é fundamental que a escola assuma seu papel como promotora de experiências significativas, organizando os grupos e assembleias com critérios que incentivem a diversidade, a escuta e a participação de todos.
O que considerar nas propostas de trabalho colaborativo – atividades em grupo e assembleias – para que favoreçam a cooperação e sejam desafiadoras e mobilizadoras, tanto no âmbito dos conteúdos pedagógicos quanto educacionais?
A resposta passa pela organização de propostas que incentivem a participação dos estudantes, considerando seus interesses e vivências. E, para que seja possível, o professor tem um papel fundamental nesse processo, pois é quem criará condições para que as interações pautadas pelo diálogo se deem.
Como criar condições didáticas que favoreçam o diálogo, a cooperação e o respeito? Que intervenções docentes são potentes para que as crianças possam desenvolver maior autonomia, protagonismo e engajamento com as próprias aprendizagens? O que considerar ao planejar trabalhos em grupo e assembleias de classe e escolar?
Pensando nessas questões, o curso Trabalho em grupo e assembleias escolares: diálogo e cooperação na formação do estudante, promovido pelo Centro de Formação da Vila, será uma oportunidade para educadores que desejam aprofundar essas discussões e aprimorar suas práticas pedagógicas. Nos dias 24 e 25 de julho, será possível trocar experiências, analisar e planejar juntos situações didáticas que envolvem o trabalho colaborativo e a participação das crianças, valorizando suas vozes e fortalecendo a convivência harmoniosa no ambiente escolar.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ARAÚJO, Ulisses F. Assembleia escolar: um caminho para a resolução de conflitos. São Paulo: Moderna, 2004. Coleção cotidiano escolar.
PUIG, JOSEP M. Ética e valores: métodos para um ensino transversal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1988.
VINHA, Telma P. [et. al.] Da escola para a vida em sociedade: o valor da convivência democrática. Americana, SP: Adonis, 2019.