por Anelise Viégas e Viviane Rei
Durante muito tempo, a matemática foi vista na Educação Infantil como algo distante, que só deveria entrar na vida das crianças nos anos seguintes da escolarização formal. Hoje sabemos que é possível – e necessário – trabalhar conteúdos matemáticos desde os primeiros anos de vida escolar, de forma significativa e integrada ao cotidiano infantil.
Matemática: uma construção cultural e social
Ensinar matemática para crianças pequenas não tem como objetivo apenas desenvolver a inteligência ou preparar para etapas futuras. O que se busca é garantir que elas comecem a se apropriar de conhecimentos que são fruto da história da humanidade, que têm papel central na organização da vida social. Lidar com números, medidas, quantidades, formas e padrões está presente em muitas situações diárias, desde dividir brinquedos até contar cartas em um jogo ou organizar objetos no espaço.
Por isso, ensinar matemática desde cedo é também garantir o direito das crianças ao acesso ao conhecimento culturalmente elaborado. E isso deve ser feito respeitando a maneira como as crianças pensam, resolvem problemas, constroem hipóteses e, principalmente, brincam.
As crianças sabem mais do que imaginamos
Muitas vezes subestimamos a capacidade das crianças pequenas de lidar com ideias matemáticas. No entanto, mesmo fora da escola, elas já constroem conhecimentos relevantes: sabem quando algo “falta” ou “sobra”, reconhecem quantidades em brincadeiras, comparam tamanhos, fazem classificações por cor, forma ou função. Essas experiências não devem ser ignoradas ou corrigidas – elas devem ser aproveitadas como ponto de partida para um ensino que respeite o modo como as crianças pensam.
Por exemplo, o simples ato de contar varia muito: depende da quantidade de objetos, da organização espacial dos itens, da familiaridade com o contexto e da experiência da criança. Contar duas cartas em um jogo é diferente de contar elementos de uma coleção em que não é possível mover os objetos. Compreender essas nuances é essencial para planejar boas situações de aprendizagem.
Matemática que faz sentido
Ensinar matemática na Educação Infantil não significa aplicar exercícios tradicionais ou usar apenas fichas e números no quadro. Pelo contrário: trata-se de criar situações significativas, nas quais as crianças possam levantar hipóteses, experimentar, discutir com os colegas, errar e tentar de novo. É por meio desse processo que a aprendizagem se torna significativa e traz sentido para a criança.
O professor tem um papel fundamental nessa construção, ao selecionar conteúdos adequados, organizar espaços e tempos de forma coerente, e propor desafios que estimulem o raciocínio e a curiosidade das crianças. Além disso, é essencial que os professores compreendam que ensinar matemática nesse nível não é uma antecipação do Ensino Fundamental, mas sim uma forma específica de iniciar as crianças no mundo do pensamento matemático.
A ponte entre a Educação Infantil e o 1º ano do Fundamental
A transição para o 1º ano do Ensino Fundamental traz novos desafios. As crianças passam a conviver com uma organização mais formal do ensino e com expectativas mais estruturadas em relação à matemática. No entanto, essa passagem não deve romper com a lógica da experimentação. Pelo contrário: o que foi vivenciado na Educação Infantil – como resolver problemas, contar em diferentes contextos e justificar suas ideias – precisa ser valorizado e ampliado. O desafio do 1º ano é justamente dar continuidade a essas aprendizagens iniciais, oferecendo novos instrumentos e registros, mas mantendo viva a curiosidade e o prazer de aprender.
No curso “Matemática na Educação Infantil e no 1º Ano: da Curiosidade à Construção do Saber”, vamos nos aprofundar na didática específica da matemática, explorando sequências e propostas que podem ser levadas para a sala de aula. Levaremos em consideração os saberes prévios das crianças e buscaremos propor desafios que façam sentido para elas.
Abordaremos formas de trabalhar os conteúdos de maneira mais significativa, indo além das atividades formais, com foco em experiências que despertem o interesse e a participação dos alunos.
Também discutiremos a importância da clareza nas intenções pedagógicas ao propor jogos e atividades, de modo que elas contribuam para a construção de sentido pelas crianças. Além disso, refletiremos sobre as possíveis intervenções do professor para garantir que todas avancem progressivamente em seus saberes.
Saiba mais sobre a Programação de Inverno do Centro de Formação da Vila.