Por Adriana Reali e Clarissa Buzinaro
Quando pedimos aos estudantes que façam um resumo ou apresentem oralmente o resultado de uma pesquisa, estamos desafiando-os a mobilizar diversas habilidades cognitivas e linguísticas. No entanto, essas tarefas, tão comuns no Ensino Fundamental, nem sempre são acompanhadas por um ensino sistemático ou pela avaliação criteriosa dos processos envolvidos. Para que resumos e apresentações orais cumpram sua função formativa, é essencial que os professores saibam planejar, ensinar e avaliar essas práticas, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia dos estudantes.
Ensinar a resumir exige mais do que pedir que os alunos e alunas escrevam textos menores a partir de outro texto. Como aponta Flora Perelman (2008), resumir é um processo que envolve habilidades de leitura e escrita interdependentes, como:
- Identificação da ideia central: O estudante precisa discernir entre informações principais e secundárias.
- Síntese de ideias: Reorganizar o conteúdo de maneira concisa, eliminando redundâncias.
- Adequação linguística: Utilizar uma linguagem clara, coesa e apropriada ao gênero textual.
Perelman também destaca a importância de considerar a finalidade do resumo. Um resumo para estudar, por exemplo, será diferente de um resumo para ser compartilhado em grupo ou entregue como parte de um trabalho escrito. Assim, os professores devem apresentar aos estudantes diferentes modelos e finalidades, ajudando-os a compreender que cada resumo serve a um propósito específico.
Já as apresentações orais, por sua vez, demandam mais do que a coragem de falar diante de uma audiência. Sandoval (2010) explica que preparar uma apresentação oral eficaz requer: selecionar informações relevantes e estruturá-las em uma sequência lógica, trabalhar entonação, clareza da fala, postura e contato visual, além de saber utilizar ferramentas como slides ou cartazes para apoiar a fala.
Além da estrutura das apresentações orais, que também depende de sua intenção comunicativa, os professores devem conhecer os recursos discursivos que promovem a compreensão e o engajamento da audiência, como a exemplificação, a reformulação, a narrativização e o comentário (Sandoval, 2010).
Colocar o que se sabe por escrito ou oralmente envolve a formulação textual, na qual a progressão temática, os elementos coesivos e a escolha lexical têm grande importância.
Como ensinar essas habilidades de maneira intencional e intervir para promover o avanço dos estudantes?
Os professores precisam modelar o que esperam dos estudantes, apresentando exemplos e discutindo os critérios que definem um bom resumo ou uma apresentação eficaz. Em sala de aula, isso pode ser feito de forma prática: ler um texto junto com os estudantes, elaborar coletivamente um resumo e demonstrar como estruturar uma apresentação com introdução, desenvolvimento e conclusão.
Para avaliar resumos, é possível considerar: clareza das ideias, fidelidade ao conteúdo original, organização e coesão textual. Nas apresentações orais, os critérios podem incluir: postura corporal e contato visual, clareza na comunicação, uso adequado do tempo e efetividade no uso de recursos visuais.
Esses critérios devem ser compartilhados com os estudantes antes das atividades, ajudando-os a entender os objetivos do trabalho.
A prática precisa ser progressiva, começando com tarefas mais simples e avançando em complexidade ao longo do tempo. No 4º ano, por exemplo, os estudantes podem identificar ideias principais e criar resumos curtos. Já no 5º ano, é possível introduzir a ideia de resumos vinculados a pesquisas, enquanto no 6º ano, os estudantes podem ser desafiados a adaptar sua linguagem e estrutura de acordo com o público-alvo.
As devolutivas também são essenciais para que os estudantes possam melhorar. Além disso, incentivá-los a refletir sobre suas produções – o que fizeram bem e o que pode ser aprimorado – contribui para o desenvolvimento da autonomia.
Por que dedicar tempo didático a essas práticas?
Resumos e apresentações orais são ferramentas fundamentais não apenas para o sucesso escolar, mas também para a vida acadêmica e profissional. Bernard Schneuwly (1998) reforça que práticas como essas ajudam os estudantes a desenvolverem habilidades transferíveis para diversas áreas do conhecimento, desde a organização de ideias até a comunicação de forma clara e objetiva.
Quando a escola assume a responsabilidade de ensinar e avaliar práticas de estudo e pesquisa, ela não só promove aprendizagens mais significativas, como também contribui para a formação de estudantes mais autônomos, críticos e preparados para enfrentar os desafios de seguir aprendendo no futuro.
Na programação de verão do Centro de Formação da Vila, no curso “O resumo e a apresentação oral como práticas de estudo e pesquisa: ensinar e avaliar”, poderemos refletir sobre a importância de ensinar a estudar e sobre como o resumo e a apresentação oral podem ser estratégias didáticas para a aprendizagem significativa de conteúdos das diversas áreas, além de promoverem o ensino de habilidades de estudo e pesquisa que acompanham os estudantes ao longo de toda a escolaridade.
Discutiremos os critérios de avaliação e a diversificação das devolutivas, de acordo com o desempenho dos estudantes. Estudaremos algumas técnicas de sumarização, estratégias de formulação textual e progressão temática e recursos semióticos relacionados à fala. Será possível, também, conhecer sequências didáticas em que o resumo e a apresentação oral são objeto de estudo, e observar algumas estratégias e desafios para se pensar a progressão dos conteúdos.
Venha contribuir para essa discussão!
Referências
- MACHADO, A. R. Revisitando o conceito de resumos. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. Gêneros Textuais & Ensino. Rio de janeiro: Lucerna, 2002. p. 138-150.
- ______.; LOUSADA, E.; ABREU-TARDELLI, L.S. Resumo. São Paulo: Parábola, 2004. (Coleção Leitura e produção de textos técnicos e acadêmicos, v. 1)
- PERELMAN, F. A arte de resumir: leitura e escrita na escola. São Paulo: Contexto, 2008.
- SANDOVAL, M. Práticas de oralidade na escola: desafios e possibilidades. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
- SCHNEUWLY, B. Gêneros e progressão no ensino: a mediação do professor na construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Confira a Programação de Verão 2025 do Centro de Formação da Vila.