por Viviane Rei e Cristiane Ferreira
“E quando não se sabe a que ponto se deseja chegar, é preciso contar com a sorte para que as atividades escolares realmente auxiliem a obter progressos.” (COLOMER, TERESA, 2024)
Todo trabalho realizado na sala de aula precisa ser intencional. A sala de aula não é um espaço para improvisos – exceto, é claro, quando esse improviso é fruto de um professor experiente, que conhece profundamente seu grupo, a faixa etária, o conteúdo que ministra e suas didáticas específicas. Quando tratamos de literatura, a intencionalidade está presente em cada escolha e em cada um dos vários aspectos que devem ser considerados ao selecionar um livro para oferecer às crianças.
A literatura ocupa um lugar especial no cotidiano da Educação Infantil. Não se trata apenas de contar histórias, mas de criar contextos que favoreçam encontros significativos entre o leitor e o texto. As ações planejadas pelas professoras nesse espaço são fundamentais para formar leitores desde cedo. Momentos de leitura compartilhada, rodas de conversa sobre os livros, exploração de diferentes gêneros literários e até mesmo a liberdade de acessar e manusear obras compõem um cenário que valoriza o vínculo afetivo e intelectual com a literatura.
O papel da escola nesse processo é distinto do papel da família. Enquanto a família muitas vezes lê por prazer ou escolhe livros de forma mais intuitiva, a escola carrega a responsabilidade de ser mais criteriosa, de atuar como mediadora de experiências literárias. Formar leitores na escola também envolve ampliar a rede leitora que circunda as crianças.
Quando os responsáveis entram em contato com as referências literárias que oferecemos, seja por meio de leituras feitas em casa ou de indicações recebidas pela escola, estamos também convidando as famílias a compartilharem dessa jornada, contribuindo para uma cultura literária que se estende além dos muros da escola, tendo assim uma comunidade leitora em constante formação.
Quais critérios orientam a escolha de um bom livro?
Na Educação Infantil, priorizamos obras que dialoguem com a sensibilidade das crianças e respeitem suas potencialidades. Diversos fatores precisam ser levados em conta nesse processo. O gênero literário é um deles, permitindo que as crianças transitem entre a poesia, o conto, o livro-álbum e tantas outras formas. A qualidade estética também é essencial, abrangendo desde o diálogo entre texto e ilustração até projetos gráficos que enriqueçam a experiência de leitura.
Além disso, a diversidade nas vozes, olhares e culturas representadas, bem como as temáticas abordadas, é fundamental para oferecer um acervo que amplie horizontes e promova reflexões significativas. Porém, a escolha do livro não pode ser dissociada de como ele será lido, do que será problematizado e de como contribuirá na formação desse leitor.
Por isso, cada leitura precisa ser cuidadosamente analisada e planejada. As questões que propomos a partir dos livros devem ser bem estruturadas para que despertem o interesse, estimulem a imaginação e tornem o aprendizado realmente significativo.
Em que momentos da escolaridade uma criança terá a oportunidade de discutir o foco narrativo? O personagem? As ilustrações e as diversas relações com o texto?
Como diz Terry Eagleton, no livro “Como Ler Literatura”, as obras literárias não são apenas relatos, mas também peças retóricas. Elas exigem um tipo de leitura especialmente alerta, atenta ao tom, ao estado de espírito, ao andamento, ao gênero, à sintaxe, à gramática, à textura, ao ritmo, à estrutura narrativa, à pontuação e à ambiguidade. São muitos aspectos a observar, e a escola não tem tempo a perder.
“Em 1857, John Ruskin escreveu um livrinho chamado ‘Elementos do Desenho’. A obra é um manual no qual o autor se propõe, lançando um olhar crítico sobre o tema da criação, a ajudar o pintor, o observador curioso e o simples apreciador das artes. Ruskin começa por incitar o leitor a observar a natureza – observar, digamos, uma folha, e então copiá-la a lápis. Ele apresenta seu próprio desenho de uma folha. Depois, passa a um quadro de Tintoretto: ‘note as pinceladas’, diz Ruskin, ‘veja como ele desenha as mãos, observe como ele presta atenção no sombreamento’. Passo a passo, Ruskin conduz o leitor pelo processo de criação.” (WOOD, James)
Como Ruskin, podemos fazer isso por nossos alunos nos caminhos da literatura? Como construir um percurso que permita a eles adquirir uma maior competência literária? Como ajudá-los a desenvolver a capacidade de observar diversos elementos no texto, para que possam perceber o que nem sempre é explícito?
Convidamos você a participar do curso “O trabalho com a literatura na Educação Infantil: critérios de seleção e o trabalho com a mediação”, que acontecerá de forma online entre os dias 27/1 e 30/1.
Nele pretendemos perseguir os objetivos que a escola, e mais precisamente o professor dos pequenos, deve ter em mente ao pensar em um trabalho com a literatura para as crianças da Educação Infantil.
Confira a Programação de Verão 2025 do Centro de Formação da Vila.