Dilemas e possibilidades em torno do 20 de novembro

por Fábio Conceição e Bianca Laurino

20 de novembro: Dia da Consciência Negra. Em 2024, pela primeira vez, comemorado como feriado nacional em todo o território brasileiro. Essa data pode ser encarada como um dia de celebração, de reconhecimento e de exaltação da população negra que, durante séculos, dia após dia, vem oferecendo diversos e incontáveis exemplos de resistência e criatividade. 

Mas a data também é, incontestavelmente, marcada pela necessidade de reflexão profunda sobre o que podemos fazer, enquanto indivíduos e enquanto sociedade, para enfrentar o que talvez seja o nosso maior dilema e desafio: o racismo. Racismo que mantém mais da metade da população do país submetida à exclusão e a todas as formas de violências, sejam elas materiais ou simbólicas. Lembrando que, de acordo com o último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, cerca de 113 milhões de pessoas se autodeclaram negras. Em um país extremamente racista, onde entender-se e declarar-se como uma pessoa negra não parece ser vantajoso, mais da metade da população afirmar essa identidade étnico-racial é uma conquista.

Por isso, se existe uma maneira de aproveitar verdadeiramente este dia (ou este mês, já que hoje muito se fala em novembro negro), é utilizando a data para planejar ações para todo o ano seguinte. Neste momento em que as escolas e instituições de ensino estão elaborando seus planejamentos para 2025, é preciso pensar: o que pode ser feito para garantir o avanço de uma educação antirracista de fato? Como é possível aprimorar os currículos a partir da perspectiva da educação para as relações étnico-raciais? O que falta para a efetiva implementação das Leis 10.639 e 11.645 em nossas escolas? Que projetos institucionais podem ser desenhados para que o enfrentamento ao racismo se dê de maneira cada vez mais cotidiana?… 

Vale ressaltar que desenvolver ações antirracistas é tarefa de todos e todas (e não apenas do professor de História, da professora de Artes ou da Gestão Escolar). Afinal, o racismo não é um problema da população negra, mas sim da sociedade brasileira como um todo. Somente quando nós assumirmos este compromisso como um pacto coletivo e contínuo é que as escolas sairão da lógica da pedagogia do eventos, como bem nomeou Rachel Bakke, e de seus recortes pontuais, temporários e isolados no tempo e no espaço. Personalidades negras e indígenas devem ser lembradas ao longo de todo o ano letivo, assim como são as brancas e suas contribuições.

A educação e a escola possuem, de fato, um potencial transformador da sociedade, como nos ensinou o mestre Paulo Freire. Mas não é qualquer escola nem qualquer educação. É preciso de comprometimento e de intencionalidade. De disposição para sair de lugares confortáveis e para ampliar nosso leque de referências. A Coalizão Negra por Direitos nos alerta: enquanto houver racismo, não haverá democracia. Que tenhamos coragem de sempre ir adiante, enfrentando uma nova barreira. Sejamos antirracistas!

As imagens deste texto retratam alguns momentos da imersão no Circuito da Herança Africana, formação oferecida em maio e junho de 2024.

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