por Francisco Ferreira
A avaliação no contexto escolar é possivelmente um dos temas mais recorrentes entre os profissionais da educação. Entretanto, na maioria dos casos, as questões subjacentes a essa discussão não estão necessariamente ligadas ao aprofundamento da compreensão do que pode favorecer a aprendizagem dos alunos e alunas. Isto pode parecer estranho, já que o sentido da ação educativa deveria ser sempre a de fazer com que o aprendizado seja efetivo e significativo. O fato, porém, é que fatores mais poderosos interferem no processo, instituindo uma cultura escolar que estabelece, entre outras coisas, hierarquias de excelência, processos de controle e de seleção e exercício de poder sobre os estudantes.
Nesta lógica, o ofício do professor é o de ensinar de acordo com uma abordagem metodológica que deve funcionar para todos e todas (se alunos e alunas não aprendem, o problema, nessa perspectiva, não está no método) e verificar se eles e elas aprenderam o que foi ensinado, nos termos em que foi ensinado. Aos estudantes, cabe absorver o máximo dos conteúdos tratados ao longo do curso e, ainda que isso não seja nunca explicitado, aprender a lidar com o sistema. Nas palavras de Perrenoud, isto significa “desmontar as armadilhas colocadas pelo professor, decodificar suas expectativas, fazer escolhas econômicas durante a preparação e a realização das provas, saber negociar ajuda, correções mais favoráveis ou a anulação de uma prova malsucedida” (Perrenoud, 1999, p. 151).
O problema desta lógica predominante nas escolas é que ela não funciona a favor da aprendizagem de todos os alunos e alunas, gerando, portanto, exclusão e/ou sentimentos de fracasso. O que fazer? A avaliação formativa e a pedagogia diferenciada surgem como propostas para reverter esse cenário, estabelecendo referenciais de análise, planejamento e gestão de aula que possibilitem a professores e professoras examinar seus objetivos de aprendizagem e trabalhar sistematicamente com os processos que os alunos devem dominar para alcançar esses objetivos.
Esta não é uma tarefa simples, pois envolve uma mudança fundamental na cultura escolar e implica redefinir os ofícios de professores, professoras, alunos e alunas. Há dificuldades de várias ordens: representações existentes acerca da avaliação como medida científica do aprendizado, ausência de modelos operacionais disponíveis para interpretação das múltiplas dimensões da aprendizagem, bem como uma certa acomodação por parte de professores e professoras em relação ao que já é praticado (e conhecido) (Hadji, 2001). Estas dificuldades, entretanto, não podem sobrepor-se ao propósito essencial da educação escolar de propiciar a todos os estudantes experiências efetivas e significativas de aprendizado e dispomos de referências suficientes para caminhar nessa direção.
E é exatamente isso que pretendemos fazer no curso que vamos realizar em julho: abordar as crenças e práticas predominantes a respeito da avaliação e explorar possibilidades de instalar uma cultura de avaliação formativa e de diferenciação pedagógica, entendendo que elas constituem elementos inseparáveis do objetivo de colocar a aprendizagem no centro da atividade escolar.
Além das questões conceituais, vamos propor um referencial de análise que ajude a identificar os processos e procedimentos que intervêm no aprendizado dos alunos e debater estratégias para trabalhá-los de forma sistemática.
Tem interesse em aprofundar estas questões? Venha participar do nosso curso.
Referências citadas neste texto:
HADJI, Charles. Avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas; trad. Patrícia Chitoni Ramos – Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999