Há quase 45 anos, a pesquisadora Emília Ferreiro revolucionou a maneira pela qual concebemos o processo de apropriação do sistema de escrita pelas crianças em período de alfabetização. Ajudou-nos a pensar a partir da lógica infantil frente aos textos escritos e a romper com a visão de que para aprender a escrever bastaria saber como decodificar a singela combinatória de letras em sílabas e dessas em palavras.
Para muito além, o processo de alfabetização é árduo e requer exposição ao contexto letrado em toda sua complexidade, considerando a inteligência do aprendiz ao entrar no mundo da leitura e da escrita. Nesse caminho, há etapas de compreensão do escrito atravessadas pela interpretação da criança a cada momento, em uma trama de equilibração, na qual o desafio intelectual não pode ser minimizado ou desconsiderado pelas práticas escolares.
Como hipóteses se transformam?
Escrever é necessário mesmo antes de saber fazê-lo de forma convencional, pois é a prática recorrente da escrita que mobiliza pensar sobre como organizar um texto para que este comunique uma ideia. Fazê-lo em pares, comparar, conversar sobre escolhas, são todas ações que promovem por em jogo as ideias que cada criança tem a cada momento sobre essa representação. Na cooperação intelectual promovida pela professora ou pelo professor a partir de algumas condições didáticas é que potencializamos um ambiente de avanço.
A importância da leitura para a aprendizagem da escrita
Uma das condições básicas e que podemos explorar mais é a centralidade da leitura nos processos de alfabetização. Ao convidarmos crianças a ler pequenos textos, a explicar como leram, como sabem que aquilo está escrito, saberes são acionados e postos em ação, desafiando a criança a reorganizar suas hipóteses e aprender mais sobre o sistema alfabético.
Conhecer esse processo e poder planejar, guiar e ajustar o ensino para crianças de 3 a 8 anos é um saber profissional de professoras e professores que se aprende e se refina, fundamental para que a experiência no mundo da escrita seja vivida como de potência e de descobrimento, de pertença a um mundo de leitores que fascina as crianças desde muito cedo.
Escrito por Fernanda Flores – diretora pedagógica da Escola da Vila e formadora do Centro de Formação da Vila
O curso “Um caminho nada suave: os desafios de aprender a ler e escrever na Infância“, está na programação de Inverno de julho do Centro de Formação da Vila. Curso voltado para professores e coordenadores de Educação Infantil e Ensino Fundamental – séries iniciais – interessados no processo de alfabetização.