Cursos de férias

Cursos de férias – para que servem?

De 20 a 23 de janeiro tivemos a Programação de Verão do Centro de Formação. Professores, diretores, coordenadores, donos de escola – na maior parte gente de escolas particulares mas, também, alguns de escola pública – vieram para participar de nossos cursos de 12 horas.

Sabemos que a formação de professores é um processo complexo, que leva tempo para provocar mudanças… Então… De que servem esses cursos tão rápidos? Em que podem colaborar para o desenvolvimento profissional dos educadores?

1. Fazer contato com as próprias concepções

Toda a atuação pedagógica traz, de maneira mais ou menos explícita, determinados pressupostos sobre o papel do aluno, o papel do professor, a forma como o processo de aprendizagem ocorre, os critérios para a seleção de conteúdos. A ação de todo o educador é guiada por pressupostos A consciência destes pressupostos é, tanto maior quanto mais reflexão sobre eles houver.
Nos cursos de formação que, como os nossos, têm uma preocupação em manter a coerência entre o discurso e a prática, os formadores têm em mente que devem criar mecanismos que desvelam as crenças dos participantes para si mesmos. Perguntas instigantes, textos reflexivos, situações escolares, uma lista de “mitos ou verdades” são alguns dos pontos de partida dos cursos que podem favorecer este desvelamento das próprias ideias.

2. Compartilhar experiências, aprender com os pares

Embora haja momentos de exposição, em nossos cursos usamos a nosso favor a diversidade – temos participantes vindos de diferentes regiões do país, de escolas grandes, médias e pequenas, tanto das capitais, como do interior; confessionais, laicas, construtivistas. Buscamos sempre abrir espaço para discussões e troca de experiências. Este é um dos pontos que os participantes sempre destacam: o quão interessante (e muitas vezes reconfortante também) é ouvir pessoas de lugares tão diferentes, com questões parecidas – por um lado e, por outro – como pode ser produtivo entrar em contato com as respostas que cada uma encontra em seu contexto e que pode ajudar a pensar novas saídas.

Curso de férias

3. Entrar em contato com experiências, práticas e instrumentos pedagógicos

Um bom curso de formação – diferente de um treinamento ou capacitação, não trará modelos prontos e acabados para serem aplicados mas trará atividades que acontecem em uma sala de aula viva, com seus conflitos, desafios, complexidade. A singularidade de uma determinada situação pedagógica servirá de ponto de partida para que se reflita sobre as escolhas do educador que está em ação: como e porquê interviu? Por que propôs isto ou aquilo? O que guiou sua prática?
O mesmo vale para pautas de observação, instrumentos de avaliação, modelos de relatório ou portfólio. Não se trata de apresentá-los e dizer “façam assim” mas de contar o percurso que levou a equipe a adotar aquele instrumento: as discussões, as tentativas fracassadas, as reflexões, as mudanças ao longo do tempo.
Assim, mais do que ter um material para levar para sua escola, a educadora que participa de um curso desta natureza, leva perguntas inquietantes que devem ajudá-la a planejar a sua prática, a criar os seus instrumentos, adequados ao seu contexto, à sua instituição.

4. Atualizar-se, saber sobre pesquisas e estudos mais recentes

O item anterior não estaria completo sem este e vice-versa. Quando se discute atividades, práticas pedagógicas ou instrumentos, é necessário apoiar-se em referências teóricas que servem como lentes para nos ajudar a iluminar e interpretar o que está sendo discutido. Assim, as formações de curta duração podem ser uma excelente situação para entender o que quer dizer articular teoria e prática.
A teoria, descolada da prática, é muito comum nos cursos de graduação. Acredita-se que conhecer os fundamentos da prática são suficientes para se saber como planejar atividades ou atuar em sala de aula. Nada mais distante da realidade (é por isso, inclusive, que muitas professoras e professores repetem o exemplo que tiveram nas suas vidas como estudantes – pois não têm outras referências práticas). Por outro lado, embora uma rotina possa ser composta por uma série de atividades feitas de modo mecânico e sem sentido – uma prática pedagógica reflexiva e que promove o avanço dos alunos implica a compreensão dos processos de aprendizagem, clareza das diferentes naturezas dos conteúdos, entendimento do papel do professor e das sutilezas da didática.
Um curso de curta duração permite que se faça recortes de situações para analisá-las utilizando autores e teorias bem focados em determinados problemas ou temas.

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5. Abrir novas possibilidades de estudo

Embora o tempo seja curto, o curso deve instigar e abrir novos horizontes. As referências teóricas – bibliografia, sites, vídeos -, que a formadora ou formador disponibilizam, além das inquietações próprias que a experiência do curso propicia, podem render muitas horas de aprofundamento, temas para reuniões pedagógicas ou novos caminhos de investigação pessoal ou coletiva.

Conclusão

A formação continuada, no contexto de trabalho, no coletivo da escola é fundamental para a construção da identidade da instituição e de seu projeto pedagógico. Cursos de curta duração entretanto, podem colaborar, e muito, para acelerar mudanças, aproximar a equipe e reavivar o vínculo com o estudo e a pesquisa.

Escrito por Claudia Aratangy

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