Planejar

Planejar é preciso? Planejar não é preciso.

O título desta postagem é, sim, para causar estranhamento. Afinal, é consenso na educação a importância de um planejamento bem feito. Mas, a palavra “preciso”, nesta frase, traz seu outro sentido – o de exatidão. E aí é que temos uma das características mais difíceis – e também mais instigantes – do cotidiano da sala de aula – sua imprevisibilidade, sua inexatidão.

Nisso, a educação se parece muito com a vida. Quantas de nós já não fomos atropeladas por ela? Quantas vezes não tivemos de ajustar nossos sonhos, adiar nossos projetos e nos adaptar às circunstâncias da tal realidade? Isso não significa que tenhamos de abrir mão completamente de nossas pretensões, mas sim transformá-las para aproveitar o que for possível dentro das circunstâncias. E sim, muitas vezes nesses casos, a emenda é melhor do que o soneto. Na escola e, mais ainda, na sala de aula, isso não poderia ser mais verdade.

Organizamos nosso planejamento. Temos objetivos. Temos conteúdos. Estratégias. E temos alunos. E aí acontece como na conhecida anedota sobre Garrincha:

Diz a lenda que, pouco antes do jogo Brasil x URSS pela Copa do Mundo de 1958, na Suécia, Vicente Feola, técnico da seleção brasileira, dando instruções a Garrincha teria dito:
Garrincha, é o seguinte, você pega a bola e dribla o primeiro beque. Quando chegar o segundo, você dribla também. Aí, vai até a linha de fundo, cruza forte pra trás, para o Vavá marcar.”

Não tinha erro — a jogada era mortal. De repente, Garrincha então perguntou a Feola:
Mas o senhor já combinou com os russos?“.

É isso. Os alunos são nossos russos. Nos surpreenderão, não farão exatamente como havíamos imaginado. Não se deixarão driblar. Impedirão a chegada à linha de fundo ou o cruzamento. E aí, assim como os bons jogadores de futebol, teremos de criar outros caminhos para o gol – teremos de lançar mão de técnica, habilidade e conhecimento para alcançar nossos objetivos.

Não significa que esta alta dose de imprevisibilidade da sala de aula, que a torna interessante e desafiante, invalide o planejamento. Pelo contrário. Assim como no futebol em que montar uma equipe equilibrada, decidir de quais competições o time participará, preparar-se fisicamente, analisar os adversários, desenvolver táticas e elaborar estratégias – é fundamental para bons resultados – conhecer os alunos, estudar o conteúdo, ter objetivos claros e estratégias didático-metodológicas desenvolvidas também é condição para o sucesso da aprendizagem deles. Mas estaremos abertos às surpresas com as quais eles podem nos brindar – aos momentos de criatividade, inspiração, inovação que, como nas belas jogadas de Garrincha., devem nos encantar e emocionar.

Escrito por Claudia Aratangy

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